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Cinco histórias marcantes de Nilton Santos

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Nilton Santos mereceu a alcunha de "Enciclopédia do Futebol", apelido que tentava traduzir um jogador que parecia à frente de seu tempo. Confira cinco histórias marcantes do campeão mundial de 1958 e 1962 e que faleceu na última quarta-feira.

Quem vê o currículo de Nilton Santos, morto na última quarta-feira aos 88 anos, vítima de uma infecção pulmonar, se impressiona de cara. Quase 13 anos de serviços à seleção, com quatro Copas disputadas e, como titular, duas delas ganhas. Mas, na verdade, o ídolo do Botafogo deixou a vida para virar lenda graças a um conjunto da obra que transcende taças e medalhas.

Não foi à toa que o melhor lateral esquerdo da história do futebol brasileiro mereceu a alcunha de “Enciclopédia do Futebol”, apelido que tentava traduzir um jogador que parecia à frente de seu tempo.

Nilton Santos, a “enciclopédia”, morreu aos 88 anos (Foto: Agência Estado)

Confira cinco histórias marcantes do campeão mundial de 1958 e 1962:

1950 – PROFECIA DURANTE O MARACANAZO

Na célebre final com o Uruguai, Nilton Santos abandonou o gramado do Maracanã em direção aos vestiários no momento do empate dos adversários. A igualdade parcial de 1 a 1 ainda dava o título ao Brasil, mas o botafoguense depois revelou que pressentiu naquele instante que a impensável tragédia viria a acontecer. Sozinho, não viu o gol histórico de Ghiggia.

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1953 – O PRIMEIRO TREINO DE MANÉ

Existem mil e uma lendas a respeito do famoso primeiro treino de Garrincha no Botafogo. Se todo mundo que disse estar em General Severiano naquela tarde falasse a verdade, o acanhado estádio do clube precisaria ser do tamanho do Maracanã.

Mas a verdade é que o menino de pernas tortas realmente ridicularizou o melhor lateral esquerdo daquela época. Garrincha pôde treinar graças aos insistentes pedidos do jogador Arati com o técnico Gentil Cardoso.

A lenda diz que Mané, no time reserva, colocou uma bola entre as pernas de Nilton Santos logo no primeiro embate. A versão mais aceita, no entanto, ignora o drible, mas relata que de fato Garrincha fez o célebre lateral comer poeira o treino todo.

“Gentil, contrata esse garoto logo porque nunca mais quero jogar contra ele”, teria dito Nilton ao treinador botafoguense. Nos anos seguintes, o lateral viraria o melhor amigo do mito da ponta direita.

1954 – ACABANDO COM A GREVE DE FOME DE DIDI

Didi era quase sempre o cara que mandava nos times em que jogou, com exceção do Real Madrid, onde foi boicotado por Di Stéfano e companhia. Palavras e atitudes do talentoso meia eram lei. No entanto, fora dos campos que dava as cartas era a geniosa esposa Guiomar.

Durante os treinos na Suíça para a Copa de 1954, Guiomar foi proibida de visitar a concentração da seleção e provocou um fuzuê. O craque Didi decidiu então entrar em greve de fome.

Coube a Nilton Santos demover o meia: “você está aqui para treinar e jogar, consequentemente queimar carvão. Se você não se alimentar, não vai aguentar. Apoio você, não conto a ninguém, mas vou começar a roubar comida no restaurante e trazer para você”.

Assim, com a ajuda de um casaco grande, Nilton abastecia os bolsos para garantir as refeições de Didi.

1958 – GOL EM COPA SAIU APÓS INDISCIPLINA

Até a Copa da Suécia, o lateral que ousasse ir além de suas funções de marcação era considerado quase um subversivo. Mas Nilton Santos foi chamado de louco pelo técnico Vicente Feola quando disparou para o ataque logo na partida de estreia contra a Áustria.

Eram quatro minutos do segundo tempo, e o Brasil já vencia por 1 a 0. Nilton recuperou uma bola na defesa e avançou, acompanhado pelo olhar desesperado de Feola. O treinador gritou para seu lateral voltar, mas o botafoguense recebeu de Mazola e seguiu em disparada até tocar na saída do goleiro.

Na volta para a defesa, território de onde não poderia sair, Nilton Santos ouviu um elogio comedido de Feola. O legado dos laterais brasileiros começava a mudar a partir dali.

1962 – MALANDRAGEM HISTÓRICA CONTRA A ESPANHA

Um ato de malandragem de Nilton Santos mudou a história da seleção na Copa do Chile. No último jogo da fase de grupos em Viña del Mar, entre Brasil e Espanha, quem perdesse voltaria para casa. Já no segundo tempo os espanhóis venciam por 1 a 0 e tiveram um pênalti legítimo ignorado pela arbitragem.

Enrique Collar foi derrubado por Nilton Santos dentro da área. No entanto, antes de a arbitragem assinalar a infração, o brasileiro ergue os braços e dá dois passos adiante, sutilmente, conseguindo transformar o pênalti em uma falta fora dos limites da área.

O resto é história. Substituto de Pelé, lesionado, Amarildo fez dois gols e virou o placar para o Brasil. Depois de bater a Espanha, o time de Aymoré Moreira seguiu avançando até conquistar o bicampeonato em cima da Tchecoeslováquia.

UOL