A socialista Michelle Bachelet se encontra em um cenário muito favorável para vencer o segundo turno da eleição presidencial chilena. Esperança da direita é resgatar votos de quem se absteve
A candidata socialista Michelle Bachelet se encontra em um cenário muito favorável para vencer, em 15 de dezembro, o segundo turno da eleição presidencial chilena. Isso porque, além de ter faltado pouco para levar logo na primeira votação, disputada neste domingo (18/11), ela deverá ter o apoio dos eleitores de seis dos sete candidatos que ficaram para trás no primeiro turno. Sua adversária, a conservadora Evelyn Matthei, da UDI (União Democrática Independente), terá de tentar dissuadir os 50% de eleitores que preferiram não votar.
Oito anos após sua primeira disputa presidencial, Bachelet alcançou uma votação muito próxima àquela que também a levou, em 2005, a uma vitória contundente, porém insuficiente para impedir o segundo turno contra um adversário da direita, embora tenham faltado poucos votos para isso. Leia também
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Com 99,93% das urnas apuradas, Bachelet obteve 46,67% de preferência nacional, percentual um pouco superior ao de oito anos, quando recebeu 45,96%. No segundo turno, marcado para o dia 15 de dezembro, Matthei, que somou 25,01% também repetiu o desempenho na ocasião de Sebastián Piñera, que reuniu 25,41%. No entanto, a vitória final de Bachelet na ocasião foi mais apeertada: 53,5% contra 46,5% do rival, que acabou por se tornar seu sucessor na Presidência quatro anos depois.
Bachelet governou o Chile terminou sua gestão em março de 2010 com alta aprovação (73%), mas que não foi capaz de levar sua coalizão a manter a continuidade. Em 2009, a Concertação (frente de centro-esquerda da qual ela fazia parte) lançou o democrata cristão Eduardo Frei Ruiz-Tagle, que perdeu para Piñera e fez com que a direita chilena chegasse ao poder pela primeira vez após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Cenário diferente
Apesar dessas semelhanças, os panoramas de 2005 e de 2013 também apresentam duas importantes diferenças, e as duas mais importantes favorecem a candidata do pacto Nova Maioria (que se tornou uma Concertação ampliada e renovada).
Se há oito anos Bachelet representava a continuidade de um governo bem avaliado (do também socialista Ricardo Lagos Escobar, que terminou seu mandato com 68% de aprovação), agora ela é quem aparece associada aos anseios de mudanças, em relação a um governo cuja popularidade é baixa – Piñera é considerado ótimo ou bom por apenas 33% dos chilenos, segundo recente pesquisa do instituto CEP.
Nos três principais eixos de sua campanha, Bachelet defende mudanças como a educação pública gratuita e de qualidade, a realização de uma Assembleia Constituinte para mudar a Carta Magna, remanescente dos anos de chumbo de Pinochet, e a luta para diminuir as diferenças sociais e injustiças contra a parcela mais pobre da população.
Outra diferença importante que favorece a ex-presidente é o fato de que, nas eleições deste ano, a maioria dos candidatos eliminados no primeiro turno são de nichos eleitorais mais próximos ao seu projeto.
Dos sete candidatos que ficaram para trás neste fim de semana na disputa, pelo menos seis apresentaram propostas semelhantes às de Bachelet. Entre eles estão o terceiro colocado, Marco Enríquez-Ominami (Partido Progressista), com 10,98%; o independente Franco Parisi, quarto lugar com 10,11%; o quinto, Marcel Claude, Partido Humanista, com 2,81%; o verde-ecologista Alfredo Sfeir, sexto com 2,35%; Roxana Miranda, do Igual, com 1,27% e o democrata-cristão Tomás Jocelyn-Holt, com 0,19%, último colocado. Esses seis candidatos juntos somaram 27,71% dos votos válidos neste domingo. Mantendo os votos de seus eleitores no segundo turno, Bachelet precisa de uma pequena parte desse eleitorado, apenas 3,34 pontos percentuais para garantir a vitória. Nem o penúltimo colocado, o centrista Ricardo Israel, com modestos 0,57% seria garantia de transferência imediata para Matthei.
O panorama é muito mais favorável que o que teve em 2005, quando o principal derrotado foi Joaquín Lavín, conservador que obteve 23,23%, reunindo um grupo de eleitores que naturalmente não votariam pelos socialistas ou na Concertação, o que explica a vantagem pequena por apenas seis pontos contra Piñera.
Para o analista político Ivan Mlynarz, Bachelet terá que disputar o voto dos partidos políticos que querem as mesmas reformas propostas por ela, mas que criticavam a sua candidatura por falta de claridade no que planteava.
“Em sua campanha, Bachelet falou em ‘mudar a Constituição’, os demais candidatos da esquerda foram mais claros e disseram ‘Assembleia Constituinte’. Ela não descartou nem confirmou essa possibilidade, mas terá que ser mais específica se quiser conquistar os eleitores das demais candidaturas progressistas”, comentou Mlynarz.
Alta abstenção
A taxa de abstenção este ano terminou sendo de 50%, apenas um pouco menor a registrada no ano passado, nas eleições municipais, na estreia do sistema de voto facultativo, com 55% de evasão.
A grande quantidade de eleitores que não votou é a principal esperança da candidata governista Evelyn Matthei, segundo analistas ligados à direita chilena. O cientista político Gonzalo Müller, da Universidade do Desenvolvimento, afirma que “Matthei não tem como disputar os votos de candidaturas menores de esquerda, porque é um eleitorado que rechaça até mesmo a Bachelet, por considerá-la conservadora, mas pode conseguir muitos votos estimulando esse eleitor que não foi votar neste domingo, e que pode ser a grande surpresa do segundo turno”.
Victor Farinelli e Catalina Portales, Opera Mundi