Os Boas Vidas: retrato de uma juventude que não sabe o que é trabalho
Os Boas-vidas, de Fellini, é a história de cinco amigos que têm em comum a existência ociosa, sem profissão ou projetos futuros
Os Boas-vidas (I Vitelloni – 1953), de Federico Fellini, é a história de cinco amigos: Alberto (Alberto Sordi), Moraldo (Franco Interlenghi), Fausto (Franco Fabrizi), Leopoldo (Leopoldo Trieste) e Riccardo (Riccardo Fellini – irmão do diretor), de 25 a 30 anos de idade, moradores em uma pequena cidade no litoral da Itália nos anos 1950 e que têm em comum a existência ociosa, sem profissão ou projetos futuros. Um grupo de vagabundos que tem dificuldades para encontrar um sentido em suas vidas.
Conhecido como o cineasta da memória, Fellini escreveu o roteiro junto com Enio Flaiano, baseado em suas experiências pessoais e nas histórias do amigo Túllio Pinelli, que roteirizouA Doce Vida. O filme seria então um retrato dramatizado da juventude do diretor em Rimini, sua cidade natal.
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Se as personagens têm pontos em comum, também possuem características próprias. Alberto é o bufão da turma. Vive com a mãe e a irmã, que paga todas as despesas da casa, inclusive as apostas em corridas de cavalo feitas pelo irmão. Fausto é o sedutor inveterado e Leopoldo, o intelectual frustrado, que passa as noites escrevendo comédias e flertando pela janela do seu quarto com a vizinha.
Já Riccardo é cantor lírico e vive à custa do pai. É a pessoa que sempre está presente nas festas. E Moraldo é o tipo introspectivo. Passa as madrugadas vagando pelas ruas. Numa ocasião, ele encontra Guido, um garoto que sai às 3 horas da manhã para trabalhar na estação ferroviária. Moraldo não entende por que o rapaz tem que trabalhar e justamente num horário daqueles.
A história dos boas-vidas origina-se de uma perspectiva subjetiva. Uma voz over, que atua como testemunha privilegiada, conduz a narração. Tudo começa em uma festa onde Sandra (Leonora Russo), irmã de Moraldo, é eleita a jovem mais bonita da cidade.
Logo uma tempestade interrompe a comemoração. A mudança de tempo é o prenúncio dos conflitos que envolverão os protagonistas. Durante a festa, Sandra desmaia e descobre-se que ela está grávida de Fausto, que tenta deixar a cidade, mas seu pai o obriga a se casar.
As crises se sucedem. Após a lua de mel, o casal vai morar com a família da moça. O pai de Sandra arruma um emprego para Fausto, mas, sendo um mulherengo incorrigível, se envolve com a esposa do patrão. Cansada das traições do marido, Sandra foge com o filho e vai morar com o sogro.
Em relação a Alberto, a irmã sai de casa para morar com um homem casado. Em prantos, sua mãe lhe pergunta como irão viver sem a ajuda da filha. Ele então promete arrumar um emprego. Uma promessa nunca cumprida. Quanto a Leopoldo, consegue mostrar uma de suas peças para um conhecido ator, mas fica assustado ao perceber que este era homossexual, e que o interesse dele não era bem a comédia.
Enfastiado, Moraldo resolve partir. Não sabe bem para onde ir, talvez Roma. O que ele sabe é que precisa mudar sua situação. Na estação de trem encontra Guido e se despede do rapaz. Da janela do trem, acena para o garoto na plataforma, enquanto imagens de seus amigos dormindo aparecem sucessivamente na tela. Uma crítica para os que não querem acordar para a vida.
Gérson Trajano, Carta Maior