O Porta dos Fundos conquistou, em um ano, um espaço incrível. Mas será que seus humoristas chegaram ao limite da superexposição?
Woody Allen contava uma história em seus shows de stand up. Ele foi convidado, certa vez, a estrelar um anúncio de vodka. Ofereceram 50 mil dólares. Teve uma crise de consciência. “Eu sou um artista. Eu não estou à venda. Devo fazer propaganda de um produto que eu não uso?” Foi se aconselhar com seu rabino. “Não faça isso. É ilegal e imoral!”, ordenou o homem. Woody dispensou a oferta. Um mês depois, Allen abre uma revista e encontra o rabino numa praia da Jamaica, refestelado numa cadeira, anunciando uma boa vodka gelada. “Ele está numa boate, agora, com seus colegas, numa boa. Sem quipá”.
O pessoal do Porta dos Fundos tem sido acusado de fazer propagandas demais. Fábio Porchat tornou-se onipresente. Seu cachê, segundo algumas estimativas, está perto de 500 mil reais. Ele mesmo declarou, recentemente: “Outro dia eu vi minha cara três vezes seguidas no intervalo do horário nobre. Acho que está na hora de dar uma parada para não desgastar a imagem”. Leia também
O PF criou um canal específico para as propagandas que eles mesmos produzem. Ali está a mais recente, da construtora Rossi, em que um casal briga em torno da maquete de um apartamento. Há muitas outras.
É eficiente? Mistério. O número de visualizações da Rossi no YouTube estava em 1 389. Um outro, da seguradora Mapfre, tinha 6 500. O mais bem sucedido, da Visa, estava com 270 mil. É bem menos do que qualquer dos vídeos, digamos, artísticos do grupo, que ultrapassam fácil os 2 milhões.
O PF conquistou, em um ano, um espaço incrível. Eles empreenderam na Internet e, através dela, se tornaram um fenômeno em outras mídias. São talentosos. Ouvi gente dizendo que estão se vendendo. Não acredito nisso. Humoristas sem vendendo? Que grande crise de credibilidade poderia existir aí?
O problema da superexposição é outro. É evidente que eles viraram uma opção fácil para agências (“Chama lá o pessoal do Porta dos Fundos e um abraço!”). Há o cansaço (“puts, lá vêm aqueles caras de novo”). E sempre o risco da graça ir para o buraco. Que piada possível com um seguro? Com um sabão em pó?
Ninguém ali tem nenhum tipo de compromisso ideológico com nada. Não é como quando a Nike usou “Revolution”, dos Beatles, para vender tênis, até ser processada pelos na época três sobreviventes da banda. Eles não são o Woody Allen. Eles podem ser o rabino do Woody Allen.
Se desejam ser alguma outra coisa, seria bom começar a pensar nisso agora. Se não, dá-lhe Porchat fazendo infomercial das facas Ginsu.
Se você não aguenta mais, pense no lado positivo. Pense que poderia ser o Gentili.
Kiko Nogueira, DCM