Estudante com doença incurável é ameaçada após defender testes medicinais com animais
Jovem com doença incurável vira símbolo da defesa de testes em animais na Itália. Caterina Simonsen passou a receber ameaças e insultos na internet após agradecer médicos por permanecer viva
Uma estudante de veterinária se tornou o principal símbolo na Itália pela defesa do uso de animais em testes medicinais após ter sido vítima de uma série de ataques e ameaças de morte de internautas que defendem o contrário.
Caterina Simonsen, de 25 anos, virou alvo de mensagens de ódio quando, no dia 21 de dezembro de 2013, postou uma mensagem em uma página do Facebook onde agradecia e apoiava a realização de testes em animais. Ela credita a esses testes o fato de ter conseguido sobreviver por mais um ano na luta contra quatro doenças pulmonares genéticas que enfrenta desde criança. Segundo a jovem, sem a pesquisa, ela teria morrido aos nove anos. “Vocês me proporcionaram um futuro”, agradeceu ela aos médicos, a quem considera seus melhores amigos.
Ao todo, Caterina recebeu 30 ameaças de morte e cerca de 500 insultos, que estão sendo investigados pela polícia local.
O caso gerou repercussão nacional, fazendo com que ela ganhasse muitos apoiadores, que iniciaram a campanha #Io Sto com Caterina (ou #Eu estou com Caterina), incluindo influentes políticos italianos, como o líder da centro-esquerda Matteo Renzi, do PD (Partido Democrático).
Caterina, nascida em Pádua (nordeste da Itália) e que estuda na Universidade de Bolonha (centro), é obrigada a usar, durante a maior parte de seu dia, tubos de respiração que diluem o muco em seus pulmões, e passou cerca de metade de sua vida internada em hospitais.
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Como se mostrou imune aos efeitos dos tratamentos, ela se tornou uma cobaia humana, com uma série de equipes médicas buscando maneiras de ajudá-la a viver mais tempo. Aos 18 anos, os médicos disseram que ela não podia ser curada.
No último sábado (28/12), uma semana depois de ter sido criticada e ameaçada, teve de voltar ao hospital em razão de uma grave infecção. A família acredita que o stress pelo qual ela foi submetida desde que se manifestou nas redes sociais contribuiu para a piora de seu quadro clínico. Ela passou 12 semanas de 2013 no hospital e 24 semanas em terapia intensiva, um ano considerado bom por ela se comparado aos anteriores.
“Desta vez é um pouco mais sério que o habitual. Os médicos me disseram que terei de passar o Ano Novo no hospital”, disse Caterina ao jornal La Repubblica, em entrevista onde revelou que uma bactéria conseguiu imunidade aos tratamentos mais recentes. “Eles estão usando o antibiótico mais poderoso do que o habitual , a minha guerra com a bactéria está em pleno andamento”, disse ela por telefone. Na quarta-feira (1º/01) ela disse que se sente melhor e aguarda uma data para colocar um novo catéter, com o qual poderá voltar para casa em cerca de uma semana.
O caso
Tudo começou quando Caterina escreveu, no dia 21 de dezembro, uma mensagem de apoio na página “A Favore Della Sperimentazione Animale” (ou “A favor da experimentação com animais”, em português). Não demorou para que ela começasse a receber uma enxurrada de mensagens de ódio, ameaças e insultos, tanto naquele post como em outros subsequentes da página. “Você pode morrer amanhã, eu não sacrificaria meu peixe de aquário por você”, respondeu a internauta identificada apenas como Giovanna. Outro escreveu : “Se você tivesse morrido quando criança, ninguém teria dado a mínima”.
Posteriormente, Caterina chegou a lançar um vídeo pelo La Repubblica explicando as dificuldades de seu dia a dia. No entanto, nem isso chegou a sensibilizar os defensores de animais, que questionaram se valia a pena viver desse jeito e se a vida de um humano é mais valiosa do que as dos animais: “Isso é o melhor que você tem, Caterina? Tenha uma boa vida então. Eu preferiria não viver se minha vida dependesse do sofrimento dos outros ou tomar milhões de vidas só porque a vida de outro vale menos do que a minha. Vergonha!”, escreveu uma internauta.
Resposta
Além de ter de ressaltar não está envolvida em lobbies da indústria farmacêutica ou de grupos políticos, Caterina promete resistir: “Animalistas nazistas não vão me parar. Estou lutando por minha vida”, disse a estudante.
“Estou viva graças à medicina. Acordo todos os dias por causa da medicina. Tenho 25 anos graças a pesquisas genuínas que incluem experiências em animais. Graças à medicina e aos animais que foram sacrificados por ela eu posso estar sentada aqui”, escreveu, em uma segunda mensagem no último dia 30.
Sobre seus detratores, ela afirma que se tratam, na maioria, de “ignorantes, mas não no sentido de imbecilidade, mas pela forma que ignoram a realidade, as leis e a medicina”. Ela lembrou que até mesmo alguns dos animais que os ativistas defendem muitas vezes dependem de medicamentos testados em outros para sobreviver.
Opera Mundi, Daily Beast e La Repubblica