Ricardo e Cássio: o Grito de Alerta de 2010 ecoa em 2014
O artigo GRITO DE ALERTA, publicado há exatamente quatro anos em Pragmatismo Político continua atualíssimo. Esse clima de suspense de quinta categoria que os militantes cassistas e sua “trupe” midiática criaram em torno da candidatura ou não do senador tucano ao governo do estado da Paraíba, coloca-o na condição de maior protagonista no pleito que se avizinha. Apoiando a reeleição de Coutinho ou rompendo a aliança feita em 2010, Cássio se apresenta como o nome a ser batido em outubro.
Se Ricardo não tivesse sido um bom gestor, tanto dos parcos recursos estaduais quanto da consistente parceria com o governo federal, o desenlace entre o seu grupo e o de Cunha Lima teria ocorrido já no segundo ano do seu mandato. As medidas mais polêmicas que adotou nos primeiros 365 dias foram o divisor de águas da sua administração, uma vez que eram necessárias e trouxeram bastante desgaste para sua imagem, tanto que os cassistas “xiitas” (e quais não são?) reclamaram em demasia, fazendo média com os atingidos diretamente pelas iniciativas que, com certeza, foram ótimas para o próprio Cássio, que jamais teria tido a coragem de assumi-las.
O fato é que, neste momento, até os maiores adversários do grupo Cunha Lima se sentem reféns dessa badalação toda, só possível graças à falta de uma consciência política mais equilibrada do povo paraibano.
O GRITO DE ALERTA de 2010 tinha sentido, porque foi baseado nos métodos comumente utilizados por Cássio e sua “tropa de choque”. A quebra dos laços políticos e administrativos entre PSB, PSDB e respectivos partidos aderentes estava, e ainda está, bem fincada no imaginário de todos os que acompanham a política, inclusive os mais percucientes analistas, já que o comportamento político de Cássio em toda a sua trajetória assim indicava. Ricardo teve sorte e competência para se livrar do linchamento que a maioria preconizava.
As ponderações publicadas em um outro artigo ainda mais antigo (O Desastre/set.2009) deste mesmo colunista que vos fala também continuam válidas. O texto, que não consta nos arquivos da nova estrutura de Pragmatismo Político pode ser lido integralmente abaixo:
O DESASTRE
04/09/2009 – Luis Soares
O que esperar de uma união entre Cássio Cunha Lima (PSDB) e Ricardo Coutinho (PSB)? Será, evidentemente, uma acomodação estratégica, de conveniências; porque, na realidade, dois bicudos não se beijam. Ambos são personalistas ao extremo e possuem trajetórias políticas bastante distintas.
Ricardo, de DNA esquerdista, forjou seu nome no cenário político da Paraíba combatendo as oligarquias e o corporativismo irresponsável na administração pública. Já Cássio, de perfil centrista, ora pendendo para a direita, ora para a esquerda, de acordo com o melhor para o seu grupo, representa tudo o que Ricardo Coutinho negou a vida toda, até o ano passado, quando vislumbrou o apoio dos Cunha Lima visando manter viva sua pretensão de se eleger governador do Estado.
Pois bem, diferenças estabelecidas e bem visíveis, que se traga os argumentos para o universo concreto. O fato do prefeito da capital ter sido cria do ”purismo” petista não impede, de forma sistemática, que ele faça uma composição política com alguém, como o ex-governador, que chegou assim como que de um paraquedas lançado pelo prestígio do seu pai. O grande equívoco de muitos acordos políticos, ultimamente, é a inspiração na flexibilidade adotada pelo PT, que levou Lula ao topo e o faz nele se manter. Ocorre que poucos enxergam que as revisões que o Partido dos Trabalhadores fez em sua própria trajetória foram extremamente necessárias para que os trabalhadores, como de resto o povo mais humilde, tivessem pela primeira vez um representante de vulto no alto comando da nação. Por outro lado, nos contextos-micro dos estados e municípios é bem mais difícil (e quase impossível) a consumação de certas junções. Enfim, Lula e o PT não podiam mais esperar e fizeram suas partes na história do Brasil. Porém, Ricardo podia muito bem esperar a sua vez que, sem dúvida, chegaria sem precisar quebrar a aliança que o ajudou a ser prefeito e, depois, se reeleger.
Sua ambição em romper o pacto que o beneficiou é do mesmo nível da que fez Ronaldo Cunha Lima anular o compromisso com Maranhão, em 1998, que faria Cássio governador depois da reeleição daquele. O imediatismo foi avassalador para o transcurso dos planos do próprio grupo Cunha Lima, assim como fatalmente será agora para Ricardo Coutinho, que não tem um grupo sólido de sustentáculo, apenas sua história pessoal e política que vem, paulatinamente, rasgando, embriagado pelos tentáculos do poder.
Luis Soares é editor de texto, editor geral e colunista de Pragmatismo Político