Mãe faz série de fotos mostrando os comentários racistas dos quais suas filhas adotivas são vítimas
Quando Kim Kelley-Wagner adotou duas meninas chinesas, hoje com 13 e 17 anos, ela nunca imaginou que sua família atrairia tanta atenção. Por isso, a enxurrada de comentários ignorantes e hostis que ela recebia todos os dias acabou a chocando. Mas ao invés de ignorar as críticas, Kelley-Wagner criou uma série de fotos estrelando suas filhas, esperando mostrar ao mundo como as palavras podem machucar.
Kim, 55 anos, diretora de comunicações em uma escola na Virginia, EUA, nunca se casou, mas sempre soube que queria filhos. Sua vida mudou depois que viu uma foto pequena acompanhada de uma história sobre órfãos chineses na revista Time. “Era uma foto de seis bebês sentados em círculo no chão, e uma tinha uma expressão incrívelmente séria. Aquela imagem ficou na minha cabeça.”
Na época, a China era um dos poucos países que permitia que solteiros adotassem crianças, então alguns anos depois, em 2001, Kelley-Wagner adotou a pequena Liliana, de 10 meses, e em 2008 ela adotou Meika, com 2 anos de idade e necessidades especiais, pois havia nascido com fenda de pálato e lábio leporino.”
“Os comentários vieram desde o início”, conta Kelley-Wagner. “Nós estávamos fazendo compras, e os funcionários dos caixas ou vendedores diziam coisas do tipo ‘Quanto ela custou?’ ou ‘Você poderia comprar um carro com o dinheiro que custou para adotá-la’ E eu dizia, ‘Você está interessado em adotar?’ Se a pessoa dizia que não eu respondia ‘Então porque você está me perguntando?’. A minha resposta fazia as pessoas pensarem um pouco, e talvez até considerarem o impacto de suas palavras e pedirem desculpas.”
Perguntas e comentários direcionados para mães e para as meninas variavam entre racistas, preconceituosos ou simplesmente sem a noção de estarem magoando. Kelley-Wagner lembra de algumas: “Eles odeiam meninas no país de onde você vem, você sabia?”, “Por que você não se parece com sua mãe?”, “Sua mãe é uma santa de querer você”, “Você é uma bonequinha de porcelana chinesa!”, “Mas quais são os problemas emocionais delas?” e “Por que trazer mais imigrantes para nosso país?”
“Certa vez, estávamos no mecânico e o rapaz do caixa falou para uma das meninas: ‘Você sabe que ela não é sua irmã de verdade, né?’”, Kelley-Wagner relembra. “Um rapaz que trabalhava lá correu e pediu desculpas pelo colega. Em uma outra ocasião, uma vendedora em uma livraria perguntou: ‘Ah, ela se parece com o pai biológico dela?”
Depois de se esquivar de perguntas e comentários inapropriados por tantos anos, Kelley-Wagner teve uma ideia. “Eu queria transformar essa situação em algo que pudesse ensinar as pessoas, principalmente porque eu não queria que as meninas guardassem tanta negatividade dentro delas.” Então, ela perguntou para suas filhas se elas concordavam em posar para fotos com os comentários escritos em quadros. “Elas toparam na hora”, ela conta. “A Lily até disse ‘Acho que as pessoas precisam saber o quanto elas são rudes’. Nós sentamos e fizemos uma lista das frases e eu fiquei surpresa com a quantidade de incidentes dos quais elas se lembravam, e eu não”. Kim intitulou o projeto de “Coisas que dizem sobre minhas filhas adotadas”, e em janeiro ela postou as fotos no Facebook. Essa semana o projeto começou a repercutir na internet e apareceu em outros blogs e sites.
Alguns vêem o projeto como abusivo. “Uma mulher comentou que meu projeto era um erro como mãe”, conta Kelley-Wagner. “Mas eu quero que as minhas filhas entendam o tamanho da ignorância do mundo, e que saibam como lidar com isso.” Ela admite que é difícil manter a calma, mas não quer que as meninas respondam com a mesma falta de educação das pessoas. Pelo contrário, ela quer que elas façam as pessoas refletirem. “Meu conselho para elas é sempre deixar o ofensor sem palavras”, ela diz.
Liliana está aprendendo. Recentemente, um casal abordou a família Kelley-Wagner e comentou: “Eu jamais amaria alguém que eu não tivesse dado à luz”, e Lily respondeu com sagacidade: “Ah, então seu marido saiu de você?”. “Eu não poderia ficar mais orgulhosa dela”, disse Kim.
Ela não acredita que as pessoas sejam cruéis de propósito, e sim que, na maioria dos casos, é simplesmente ignorância. “Eu acho que as pessoas têm curiosidade e não sabem como lidar com isso”, ela diz. “Felizmente, minhas filhas nunca questionaram o lugar delas na nossa família, e nunca se sentiram excluídas”.