O Papa Francisco gravou um vídeo com um iPhone convidando os cristãos à unidade.
A análise é do jesuíta Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, publicada no blog CyberTeologia. A tradução é de Moisés Sbardelotto para o Unisinos
Eis o texto.
1. O Papa Francisco abraça plenamente a lógica relacional da comunicação. O vídeo é gravado por um bispos não católico amigo do papa há anos. A gravação ocorre para que ela seja compartilhada com outros dentro de uma assembleia de oração. Nesse sentido, o papa reconhece o fato de que comunicar não significa simplesmente transmitir, mas sim compartilhar em um contexto de relações. Portanto, é sempre um testemunho. O vídeo tem um forte corte testemunhal.
2. O Papa Francisco não tem nenhum problema em mostrar a sua dificuldade em falar inglês. É sempre ele mesmo. Ele diz algumas palavras e depois passa para o italiano (não ao espanhol), mas dizendo que, na realidade, ele fala a língua do coração, que tem uma gramática simples. O papa, assim, parece autêntico, simples, sem filtros, sem necessidade de sets ou de luzes ajustadas. É ele mesmo, natural, à vontade. Resolvido.
3. O papa envia uma mensagem elevada, mas o faz de maneira simples e apelando a dois sentimentos: a nostalgia e a alegria. A sua mensagem é a do compromisso ecumênico. Ele se reconhece irmão entre irmãos. Diz que sente alegria e nostalgia. Alegria porque fala a irmãos que rezam, e isso leva a entender como o Senhor está agindo sempre e em todo o lugar. Mas também com nostalgia, nostalgia do abraço entre os cristãos. Porque os cristãos estão divididos. Falta-lhe esse abraço. As divisões entre os cristãos existem e são culpa dos nossos pecados, diz. Só o Senhor é justo. Ele sente a necessidade de convidar àquele pranto que reconcilia. Portanto, a sua mensagem se modula em dois níveis: o compromisso ecumênico a superar as divisões e os sentimentos de nostalgia e alegria. O sentimento de alegria é o primeiro, porque diz a unidade, o abraço agora possível e necessário.
4. O papa comunica essa mensagem elevada e comprometedora usando um meio pop como o iPhone e com uma mensagem que vai, acima de tudo, a pessoas reunidas e depois vai também a uma plataforma pop como o YouTube. Não só isso: nessa mensagem simples e direta, ele cita Alessandro Manzoni. Não há mais distinção entre alto e baixo, entre cultura que se transmite em formas altas e cultura pop que se transmite em formas populares.
5. O papa se volta a cristãos pentecostais, que representam uma grande solicitação para as Igrejas, especialmente as mais jovens. Nesse sentido, o papa abraça essa realidade, pede para rezar. Aceita a solicitação e a coloca em um plano de fé e de comunhão fraterna. A resposta do bispo protestante no seu discurso de apresentação desse vídeo é eloquente. A propósito dos protestantes, ele afirma: “The protest is over!” (O protesto acabou).
Vídeo: