Professora transexual revela que não enfrenta o preconceito dos alunos, mas dos colegas de trabalho. Comentários como "você é um homem de peito" ou dúvidas sobre sua competência profissional apareceram
Docente há mais de 20 anos e transexual desde 2006, a gaúcha Marina Reidel pediu afastamento da escola da rede pública em que dava aula de artes para fazer sua transformação. Quando voltou, sentiu-se acolhida pelos estudantes, curiosos para saber sobre a mudança. Mas na sala dos professores, encontrou o preconceito entre os colegas.
Comentários como “você é um homem de peito” ou dúvidas sobre sua competência profissional (“você tem condições de dar aula?”) apareceram. A dificuldade enfrentada por ela se repetia nos relatos de outras professoras transexuais.
“Eu senti uma dificuldade no início com os colegas professores, as meninas me contavam a mesma situação. O preconceito surge nos pares: enquanto alunas, o preconceito aparece nos alunos; quando professora, com os professores”, constatou durante sua pesquisa de mestrado sobre a condição de professores transexuais, finalizada em 2013.
Marina conversou com docentes de diferentes Estados, todas do gênero feminino e a maior parte delas na rede pública –o concurso público facilita a contratação por adotar critérios de seleção objetivos, sem que a sexualidade interfira na escolha.
Hoje, a pesquisadora faz parte de uma rede de professores trans que já conta com 80 participantes. “A gente se sente uma ilha na escola, precisamos nos fortalecer. Criamos uma rede para socializar, para trocar experiências já que os professores não conseguem fazer a mesma troca com os colegas da escola.”
Respeito e proximidade com alunos
Em seu mestrado, defendido na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Marina mostra que professores trans que se assumem na escola passam a tratar de questões de sexualidade e se tornam referência.
“A todo tempo a professora trans é buscada para resolver as questões de preconceito e acaba sendo o adulto de referência, para os LGBTs e para os jovens em geral. Ela tem um diálogo maior com os alunos”, diz. “A professora trans muitas vezes é convidada para ser paraninfa de turma, para ir nas festas que os alunos fazem.”
Uma das razões para isso pode ser atribuída ao fato desses professores exporem sua sexualidade e, assim, parecerem mais abertos ao diálogo sobre a vida fora da escola.
Além de passarem o conteúdo das disciplinas que ministram, Marina afirma que a existência de uma professora transexual na escola também traz novos aprendizados para os estudantes. “Você não vai ensinar ninguém a ser travesti, gay ou lésbica, mas a gente deixa os alunos mais sensíveis para o direito à diversidade e o respeito ao outro.”