Aborto: milhares protestam em Madri contra redução ao direito. Projeto do governo espanhol é apoiado pela igreja católica e reduz drasticamente os casos em que a interrupção legal da gravidez é autorizado
Milhares de pessoas ao gritos de “aborto livre” se manifestaram esta semana em Madri contra um projeto de lei do governo que reduz drasticamente o direito ao aborto.
Milhares de pessoas também protestaram contra este projeto em países europeus, como França ou Grã-Bretanha, e também estavam previstas manifestações na Argentina e no Equador.
“Mãe livre!”, “Que a mulher decida se quer ser mãe” ou apenas “Não” indicavam os cartazes exibidos pela multidão.
Os manifestantes, muitos deles com camisas na cor violeta, que se tornou a cor da “maré violeta” contra a reforma legislativa, também pediam a renúncia do ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón.
Presente na manifestação, a número dois do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Elena Valenciano, denunciou um texto “contra as mulheres, contra sua dignidade e sua liberdade”.
Para o líder do Esquerda Unida, Cayo Lara, o projeto do governo só satisfaz “os setores mais fundamentalistas e integristas da hierarquia religiosa e os mais fanáticos do franquismo”.
A atual lei, aprovada pelo governo socialista anterior, autoriza o aborto livre nas primeiras 14 semanas de gravidez e até as 22 semanas, em caso de má formação do feto ou de perigo para a saúde física ou mental da mãe.
A reforma anula esses prazos e estabelece que a interrupção da gravidez será legal apenas em dois casos: estupro ou “grave perigo” para a saúde física ou mental da mãe.
As manifestantes que conheceram o franquismo (1939-1975) denunciavam uma volta àquele período.
“Eu viajei de avião para Londres há 35 anos, éramos como terroristas. Não quero que isso volte a acontecer”, disse Marisa Vallero, uma manifestante de 55 anos. “É uma vergonha, é uma reivindicação histórica para os direitos das mulheres”.
Em outras partes da Europa, milhares de pessoas participaram de manifestações em cidade como Paris e Londres para defender o direito “fundamental” ao aborto na Espanha.
Antes da manifestação deste sábado, o doutor Santiago Barambio, de 67 anos, diretor da clínica Tutor de Barcelona e um dos “pais” da lei de 2010, havia lembrado sua época de estudante sob o franquismo quando estava de plantão no hospital e via mulheres chegando com complicações causadas por abortos clandestinos.
“Vi mulheres morrendo e me disse que não permitiria isso, porque vi o drama dessas mulheres sangrando”, disse o médico.
Aplaudida pela Igreja Católica espanhola, que a vê como um “avanço positivo”, a reforma chegou inclusive a dividir o partido do governo, com vários integrantes se mostrando reticentes em relação ao texto legislativo em seu formato atual.
AFP