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Tá com pena? Adote um bandido!

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Há um tempo atrás se falava de bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
(Chico Science)

O cantor pernambucano Chico Science foi lembrado nesta semana por completar, no dia 2, 17 anos da sua trágica morte. Seus versos continuam tão atuais quanto quando os compôs. No entanto, nesta semana parece ter sido incrementado por uma nova figura do conservadorismo midiático brasileiro, figura que quase chega (ou já chegou, mesmo) a uma determinada ideologia que rondou a Europa em meados do século passado, e sempre visitou o nosso país.

A queridinha Rachel Sheherazade, “jornalista” do SBT, foi às telas nesta semana comentar sobre o ocorrido no bairro do Flamengo, quando um grupo de agressores denominados de “justiceiros”, prenderam um adolescente nu a um poste, depois de espancá-lo e cortarem uma de suas orelhas.

Rachel Sheherazade (Reprodução / Youtube)

Seria só mais uma aparição televisiva com discurso ultra-reacionário, o qual já nos acostumamos a ouvir em rede nacional. Mas desta vez, a “jornalista” incitou explicitamente a violência, quando alegou que “a atitude dos “vingadores” é até compreensível […] O quê que resta ao cidadão de bem que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro! O contra-ataque aos bandidos é o que eu chamo de legítima defesa coletiva”. Ou seja, para os que se autodenominam “cidadãos de bem” é legítimo o uso da violência, julgado e executado por eles mesmos. São, todos estes, juízes divinos, talvez.

Para completar o discurso que sempre é lançado pela turma dos “direitos humanos para os humanos direitos” (ou de direita, mesmo) foi repetido: “E aos defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”.

Ela ainda se revolta por estar falando de um país que tem 80% dos casos de homicídios arquivados. Mas suspeito que a “jornalista” não se importe muito com estas vítimas, já que a maior incidência destas é em negros e pobres (como já tratei em artigo anterior desta coluna, intitulado de “Sobre negros, violência e salários”). Por que ela se importaria com mais um “marginalzinho” (termo utilizado em seu discurso)?

Mas na era da Internet nada se passa despercebido. Já ronda no YouTube um vídeo chamado “Justin Bieber x Marginalzinho do Poste”, o qual podemos suspeitar que a tal revolta da nossa querida “jornalista” é bastante seletiva. Enquanto que para o Justin Bieber, depois de cuspir em fã, pichar muro, agredir motorista, dentre outras coisas, a conclusão é: “os médicos dizem que é normal, é a síndrome da adolescência […] peguem leve com o Justin, ele está só crescendo”, para o adolescente da periferia, o qual ela não sabe de nada, o açoite e o tronco são apenas formas dos homens de bem fazerem justiça.

Mas é isto, Rachel. O mundo anda muito intolerante, não pode nem defender mutilações, açoites e enforcamentos, que a esquerdalha começa a emitir sua opinião retrógrada, a qual já deveria ter sido afundada, junto ao muro de Berlim. Concordo com você, quem quer defender bandido que os adote, começando pelo grupo de homicidas que você denominou de “vingadores”.

*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político

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