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Ser ‘rebaixado pela S&P’ deveria ser motivo de orgulho nacional

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Como já observou Paul Krugman, as agências refletem o chamado “mercado” – ou, para usar uma linguagem mais apropriada, o “1%”. É perigoso contrariar investidores estrangeiros interessados em coisas como juros altíssimos

Paul Krugman, Nobel de Economia em 2008 e colunista permanente do The New York Times, coloca em xeque a capacidade dos analistas da S&P. Departamento de Justiça dos EUA já chegou a processar a Standard & Poor’s por erro de ratings (Pragmatismo Político)

“E então a S&P rebaixou a França.

E o que isso nos diz?

Não muito sobre a França. Não podemos subestimar que as agências de classificação não têm – repetindo, não têm – informações privilegiadas sobre solvência de grandes países.”

Assim se iniciou um artigo, no final do ano passado, do Nobel de Economia Paul Krugman, americano.

Troque França por Brasil, e o conteúdo continua inteiramente válido.

Krugman – Nobel de Economia que em outra ocasião chamara os economistas da S&P de “idiotas”, depois que eles rebaixaram os Estados Unidos – notava o seguinte: a França no fundo estava sendo rebaixada porque o presidente Hollande aumentara o imposto sobre os ricos e não desmontara o estado de bem estar social.

Na França, a nota da S&P esteve longe de causar comoção nacional.

Mas no Brasil o caso vai ser absurdamente explorado – muito mais por razões políticas do que econômicas.

É um ano eleitoral, e a oposição a Dilma vai usar a S&P como prova de que o país está afundando, assim como vem acontecendo com a compra de uma refinaria em Pasadena pela Petrobras.

É o chamado triunfo do desespero. Na falta de uma candidatura oposicionista que empolgue os brasileiros, e diante da vantagem de Dilma a poucos meses das eleições, vale qualquer coisa.

Mas pouco vai mudar eleitoralmente. As pessoas que se comovem com notas de agência de classificação de crédito – e nunca é demais lembrar que elas falharam miseravelmente em não perceber a grande crise de 2008 – não votam em Dilma.

As agências refletem, como notou Krugman, o chamado “mercado” – ou, para usar uma linguagem mais apropriada, o “1%”.

Sob Lula, o Brasil atingiu seu grau máximo para as agências. Isso porque, como o próprio Lula tantas vezes disse, nunca bancos e empresas ganharam tanto no Brasil.

Se Dilma recebeu uma “luz amarela”, como dizem alguns investidores estrangeiros interessados em coisas como juros altíssimos, é porque deve estar fazendo alguma coisa certa para os “99%”.

Menos do que deveria, com certeza, mas mais do que gostaria gente que, como a S&P, representa o “1%”.

Paulo Nogueira, DCM