Os machistas do futebol parecem desejar que a bandeirinha Fernanda Colombo não erre nunca. Porque, a cada erro, sua beleza será invocada contra ela
Scott Moore*
Ladies & Gentlemen:
Boss me inteira da polêmica em torno da lineswoman (bandeirinha) Fernanda Colombo.
Vejo os lances pelos quais ela é acusada e chego a uma conclusão: seu pecado é ser bonita.
Porque errar todos erram.
No campeonato brilhantemente ganho pelo meu Man City, quantos pênaltis reais foram marcados erradamente? Muitos. Quantos pênaltis fajutos deixaram de ser marcados? Muitos. E impedimentos assinalados absurdamente? Muitos.
Como sempre, houve reclamações copiosas dos dirigentes, treinadores e jogadores de vários times da Premier League. Mas ninguém invocou o gênero sexual dos juízes e dos linesmen.
Os machistas do futebol parecem desejar o seguinte: que Fernanda não erre nunca. Porque, a cada erro, sua beleza será invocada contra ela.
Ladies and Gentlemen: a melhor história que conheço de bandeiras aconteceu na Copa de 1966, vencida pela melhor seleção de todos os tempos, a nossa.
Na final entre nós e os alemães, o bandeira russo deu como gol inglês uma bola que passou longe da linha. Era a prorrogação, depois de um jogo que no tempo regulamentar terminara 2 a 2.
Nossos inimigos reclamaram. O bandeira russo afirmou convicto que a bola entrara – uma tremenda de uma mentira.
Tempos depois, alguém lhe perguntou: por quê? Por quê aquele gesto? E ele respondeu: “Por Stalingrado”.
Na batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra, milhares de russos morreram nas mãos dos invasores alemães. O bandeira se vingara.
O caso de Fernanda é bem menos pitoresco. E ainda mais chocante na dose ultrajante de machismo que está associada às reclamações.
Um diretor do Cruzeiro chegou a sugerir que ela deveria posar para a revista Playboy.
Bem, aqui haveria consequências. Somos menos condescendentes. Um locutor e um comentarista que fizeram piada sexista de uma bandeirinha foram, simplesmente, banidos da emissora para a qual trabalhavam.
Fernanda Colombo, com erros e acertos como qualquer bandeirinha, traz uma coisa rara no futebol brasileiro destes tempos: beleza e graça.
Os jogos são feios, truncados. Os estádios, vazios, pioram ainda mais a qualidade do espetáculo.
Fernanda é um foco de brilho num quadro desolador.
O mundo masculino do futebol brasileiro erra, erra e ainda erra. Jogadores com salários enormes perdem gols incríveis. Técnicos tomam decisões estapafúrdias. Dirigentes não conseguem administrar decentemente um time.
E só os erros de Fernanda são discutidos?
Daqui de Londres, numa ressaca infernal depois do título épico do meu glorioso Man City, despacho minha completa solidariedade a Fernanda Colombo.
O único pecado dela, repito, é ser bonita.
Sincerely
*Scott Moore é jornalista inglês | DCM