Todos deveríamos vir ao mundo já desfrutando de aposentadorias igualitárias. E poder fazer as coisas boas da vida numa idade mais adequada: a juventude. Depois dos 40, aí sim, ao trabalho
O ditado “O trabalho enobrece e dignifica o homem” é muito utilizado por quem trabalha pouco, e lucra muito com o trabalho alheio. E a gente embarca nessa “ética” patronal como se fosse uma lei divina. Claro que o trabalho é que produz riqueza, mas o problema é que a riqueza nunca vai para as mãos de quem a produziu. Ninguém fica rico à custa do seu próprio trabalho. Por isso, para esse ditado vale mais a sua versão gaiata: “O trabalho empobrece e danifica o homem”.
Ora, o que a humanidade deveria procurar era diminuir o trabalho. Para isso é que, teoricamente, foram sendo criadas máquinas e tecnologias. Teoricamente. Se uma máquina produz por 100 homens, o que se deveria fazer era diminuir a quantidade de trabalho deles, mas isso acontece? O capitalismo vive da mais-valia, que os novos direitistas fingem não existir mais. Aos capitalistas não interessa a felicidade humana, a não ser a deles mesmos. Então, quando colocam numa fábrica, num escritório ou seja onde for cinco máquinas que fazem o trabalho de 100 pessoas cada, em vez de diminuir a exploração dos seus empregados, aumentam.
Assim, cada vez que a ciência cria novas máquinas e tecnologias, deveria contribuir para a felicidade humana, mas o resultado é uma degradação maior. Para quê? Para o patrão acumular. E depois culpam pela violência os miseráveis produzidos por esse círculo vicioso.
Bom… E daí? Todo esse discurso é para entrar em propostas que parecem absurdas, mas deveriam nortear todo o desenvolvimento tecnológico: colaborar para a felicidade humana.
Na minha visão anárquica, uma boa proposta seria, como dizia meu amigo Zé Alencar (o jornalista, não o vice-presidente), a gente trabalhar apenas um dia por mês. Por exemplo: eu trabalharia todo dia 20 de cada mês. Todos os dias restantes, tiraria para fazer o que gosto.
No dia 19, véspera do meu dia de trabalho, eu ficaria concentrado, informando a quem me convidasse pra qualquer coisa: “Não. Amanhã é meu dia de trabalho”. E no dia 20 trabalharia alegre para, no final do dia, dizer: “Missão cumprida, este mês”, e voltar à boa vida, à produção artística, às safadezas, à cachaça…
Isso valeria pra todo mundo. Quanta gente tem um baita potencial artístico e vive insatisfeita por não ter condições de desenvolver esse potencial? Isso acabaria. Seriam dadas condições a todos.
Outra proposta, e essa não tem nada a ver com tecnologia: todo mundo deveria nascer aposentado. Todos com os mesmos salários de aposentado, mas com condições de fazer coisas boas, viajar, vadiar, numa idade mais adequada: a juventude. Quando completasse 40 anos, o sujeito seria desaposentado e teria de trabalhar o resto da vida, claro que com uma carga horária decente, direito a férias etc. Aos ricos, sei que esta proposta não seria muito atraente, pois eles já começam a trabalhar tarde mesmo, muitos deles depois dos 30 anos, já pós-graduados e doutorados. Mas para os pobres seria uma baita vantagem, ainda mais que aposentado ao nascer, todos teriam salários iguais… Mais um motivo para os ricos não gostarem, né?
Fora isso, imagino que haveria uma onda de suicídios aos 40 anos, mas eu pergunto de novo: e daí?
Mouzar Benedito, RBA