Após traduzir seus textos por seis anos, Gordiano Lupi acusa a polêmica blogueira cubana de ser mercenária e estar interessada apenas na fama e no dinheiro
O jornalista, escritor e tradutor italiano Gordiano Lupi, há seis anos traduzia para o jornal La Stampa, sediado em Turim, os textos da blogueira cubana Yoani Sánchez. Na última sexta-feira (9), ele escreveu uma carta aberta à Sánchez, após ela rescindir seu contrato com o periódico, onde se lia finalmente “descobrir o verdadeiro rosto” da cubana anti-castrista.
No início de 2013, Yoani Sánchez fez uma visita ao Brasil, onde foi recebida como heroína por conservadores do país (relembre aqui), especialmente pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), por sua luta pela liberdade de expressão e direitos humanos dentro da ilha de Cuba, mas que segundo Lupi, “[…] Vive sua vida tranquila, que em Cuba ninguém conhece e ninguém persegue, que não é ameaçada, presa, silenciada, que não tem problemas para entrar e sair de seu país.”
A carta de Lupi é mais um golpe público a já contestada imagem de Sánchez e o fato de vir de alguém que, como ele mesmo definiu, era alguém que lhe “havia despertado ideias ambiciosas e sonhos democráticos, corretos ou incorretos”, mas que no fundo, o “objetivo de Yoani Sánchez sempre foi o de ser rica e famosa”.
Leia abaixo a carta aberta de Lupi traduzido do italiano:
Por Gordiano Lupi
Yoani Sánchez encerrou o contrato com o [periódico italiano] La Stampa e fez de mim um homem livre, que até ontem não podia dizer o que pensava por ser o tradutor de seus textos. Agora que já não tenho qualquer ligação [com ela] e que os interesses da blogueira mais rica e premiada do mundo são administrados pela sua agente, Erica Beba, posso tirar as pedras de meus sapatos. Elas estavam me fazendo mal.
Eu cometi o erro de acreditar na luta Yoani Sánchez, vendo nela uma luta de David e Golias, uma luta que partia de baixo para combater o poder, uma luta idealista pela liberdade de Cuba. Percebi – ao som de amargas decepções – que a oposição de Yoani era letra morta, para não dizer que era por conveniência, para fazer o mundo acreditar que em Cuba não há liberdade de expressão. Comecei a duvidar que Yoani fosse não uma agente da CIA – como diziam seus detratores – mas da família Castro, paga para lançar fumaça em nossos olhos. Mas mesmo que não fosse nada disso, bastaria o fato de que eu percebi estar envolvido com uma pessoa que dá prioridade a interesses em nada idealistas. Um blogueira que leva a sua vida com tranquilidade, que em Cuba ninguém conhece e ninguém incomoda, que não vive ameaçada, aprisionada, silenciada, que não tem nenhum problema para entrar e sair de seu país. Por seu belo rosto recebi ofensas e ameaças de castristas e de comunistas italianos, por participar de uma luta inexistente, um sonho de liberdade esperado por muitos, mas certamente que não por ela, que pensava apenas no dinheiro proveniente de prêmios e contratos. Nesse ponto, eu não sei se Yoani Sánchez é uma agente da CIA ou da Revolução Cubana. Eu não sei e não me importo em saber. Só sei que não é a pessoa que eu pensava ser. E isto é suficiente para mim.
Um episódio que deveria ter me abrido os olhos à realidade ocorreu há mais de um ano, quando eu mandei a minha sogra à casa de Yoani para pedir esclarecimentos sobre uma viagem à Itália. Bem, eles a fizeram esperar na escada. Nem sequer a deixaram entrar para a sala. Um comportamento muito estranho para um cubano do povo. Eu deveria ter acreditado na minha sogra, quando ela me disse: “Essas pessoas não lutam pela liberdade de Cuba. Elas estão interessadas apenas em encher os bolsos”. Eu não acreditei na minha sogra e errei. Acreditei em uma luta ideológica que não existia. Na verdade, o objetivo de Yoani Sánchez foi sempre a de se tornar rica e famosa. Agora, ela conseguiu. Agora poderá ficar longe de mim, que perdi o direito de voltar a Cuba, enquanto a princesa dos blogueiros pode entrar e sair, como se fosse uma mosca que fica zumbindo um pouco em Havana e um pouco em Miami. A palavra borboleta não combina com ela. Mosca-varejeira é o termo mais apropriado. Agora Yoani Sánchez vai abrir um periódico farlocco (falso) , como os chamamos aqui na Itália, que poderá ser traduzido por outra pessoa, pois eu não o farei. Um falso jornal como o La Avanti de Lavitola, com todo o respeito com Lavitola. Yoani vai abrir um jornal, junto com seus amigos, que ninguém em Cuba vai ler, porque só estará disponível online. Mas o que isso importa para Yoani ? Ela apenas quer alguém para financiá-lo, e que seja lido em Miami ou na Espanha, onde a comunidade cubana continua a se iludir com uma paladina inexistente.
Até agora, viajamos juntos, querida Yoani. Agora basta. Continuarei minha jornada sozinho, longe de suas ambições. Ela também toca Cuba é claro, que faz parte da minha vida, embora muitos cubanos tenham me desiludido. Vou tentar não pensar sobre isso, por respeito à minha esposa, que é uma cubana do povo e não tem nada a ver com a sua arrogância burguesa. E, como disse Fidel Castro, a história decidirá. Veremos quem por ela será absolvido”.
Até agora, viajamos bastante juntos, querida Yoani. Mas suficiente é suficiente. Continuarei minha jornada sozinho, longe de suas ambições. Ele também toca Cuba é claro, que faz parte da minha vida, embora muitos cubanos tenham me decepcionado. Vou tentar não pensar sobre isso, por respeito a minha esposa, que é cubana, e não tem nada a ver com a sua arrogância burguesa. E como Fidel Castro disse que a história vai decidir, vamos ver quem vai ser absolvido.
informações de Portal Vermelho, Caros Amigos e Fórum
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