A descoberta macabra de 800 esqueletos de bebês e crianças na fossa séptica de uma instituição católica irlandesa pode ser apenas uma amostra do terror vivido no último século. Irlanda suspeita de mais valas comuns
A instituição católica na localidade irlandesa de Tuam era conhecida simplesmente como “The Home” e funcionou entre 1925 e 1961, gerida pelas freiras do Bom Socorro. Para ali eram enviadas as raparigas que engravidavam, sendo imediatamente ostracizadas pelas famílias e pela sociedade da época.
Para além dos bebês natimortos ou nos primeiros dias de vida, as más condições de higiene e de nutrição das crianças contribuíram para o número de vítimas. Em vez de um enterro decente, os cadáveres amontoaram-se numa fossa séptica agora descoberta. Dada a tradição católica conservadora seguida à risca nestas instituições, as crianças nascidas fora do casamento não podiam ser batizadas e por isso lhes era negado também um enterro católico.
O primeiro-ministro irlandês Enda Kenny afirmou esta quinta-feira (5) à agência France Presse que as autoridades se preparam para investigar se este é um caso isolado em instituições católicas que acolhiam crianças no século passado. E prometeu que o governo irá “fazer o que for melhor para lidar com mais um elemento do passado do nosso país”.
“O sentimento de repulsa de quase toda a gente na Irlanda face ao desprezo pelos nossos jovens mais inocentes tem de ser respondido com abertura e transparência, e isso é o que o governo fará”, prometeu por seu lado o ministro trabalhista Brendan Howlin.
Também a Anistia Internacional veio a público exigir que o governo irlandês investigue a fundo as violações de direitos humanos nestas instituições que acolheram mães solteiras durante décadas e que “não trate este e outros casos como meramente históricos”. A ONG lembra que o centro de Turam encerrou em 1961, numa altura em que já vigorava a Convenção Europeia de Direitos Humanos, bem como a Declaração Universal assinada em 1948.
Crianças foram usadas como cobaias de vacinas nos anos 1930
A imprensa britânica noticia esta sexta-feira (6) que mais de duas mil crianças internadas em instituições católicas foram usadas para testes de vacinas ainda por comercializar, entre 1930 e 1936.
Não há dados que provem a existência de consentimento ou sequer das consequências para a vida ou a saúde das crianças que serviram de cobaia a estes testes. O autor desta descoberta nos arquivos históricos de revistas médicas diz que se trata de “apenas a ponta de um enorme e submerso iceberg”. Michael Dwyer é historiador da Universidade de Cork e sublinha que o fato de não ter encontrado qualquer registro destes testes nos arquivos das instituições oficiais responsáveis pela saúde pública sugere que “eles não seriam aceitáveis para o governo, as autoridades municipais e o público em geral”.
No entanto, os relatórios destes testes foram publicados nas revistas médicas mais prestigiadas faz crer que “este tipo de experiências em humanos era muito aceite pelos médicos e facilitado pelas autoridades encarregues das instituições que albergavam crianças”, conclui o historiador.
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