Não só Datena, mas os grandes veículos de comunicação só prestam solidariedade e cobram apurações contra abusos da polícia apenas quando seus funcionários se encontram entre as vítimas
O apresentador José Luiz Datena é um caso patológico de um peso e duas medidas. Esbravejador contrário às manifestações, repetidor compulsivo dos termos “vândalos” e “vandalismo”, por vezes aplaude a ação truculenta de policiais. Seu programa é baseado nisso.
Quando a vítima é alguém de seu clube, o discurso muda de figura.
Após a agressão sofrida por um cinegrafista da Band nesta quarta-feira (dia 04), Datena chamou o policial de “tranqueira”, desfiou críticas ao despreparo, intimou as autoridades a se pronunciarem. Até aí normal, ele faz isso dezenas de vezes todos os dias.
Um responsável pela área de comunicação da PM procurou a produção do programa dispondo-se a falar do assunto. Datena estufou o peito: “Só aceito falar com o governador de São Paulo ou o secretário de Segurança”. Normal, é Datena.
Então o secretário Fernando Grella entrou em contato via telefone, informou que o PM agressor já havia sido identificado e detido. Datena sendo Datena, ‘sugeriu’ que o secretário pedisse desculpas ao cinegrafista agredido. “Nossa solidariedade ao funcionário agredido”, disse Grella.
Datena não perdia o fôlego: “A gente respeita a corporação. Agora, aquele cara merece ser retirado das ruas. É necessário separar o ‘joio do trigo’”, pedindo mais que a punição informada pelo secretário de segurança.
Por que as grandes emissoras e veículos de comunicação prestam solidariedade e cobram apurações contra abusos da polícia apenas quando seus funcionários se encontram entre as vítimas?
A guinada na cobertura das manifestações de junho de 2013 deu-se em função da bala de borracha que atingiu o olho da repórter Guiliana Valone, da Folha de S. Paulo. Até então, os manifestantes eram considerados vândalos sem causa.
Após a noite de 13 de junho em que a repórter (e mais centenas de manifestantes e profissionais da mídia) foi covardemente agredida, o jornal e seus congêneres viraram o disco.
Datena disse no calor de sua indiganação: “Houve uma agressão desnecessária e isso não combina com a imagem dos policiais.” Existe agressão “necessária” que combina então?
Há um detalhe interessante no episódio. Logo após sofrer a agressão, o cinegrafista (identificado apenas como Hércules), dirige-se aos policias que o estão cercando e depois de demonstrar espanto por ter sido agredido solta a frase que ‘separa o joio do trigo’, como tanto grifou Datena. O cinegrafista diz aos policiais: “Pô meu, estou com vocês”.
Como assim? O que quer dizer isso? Essa postura é covarde, tendenciosa, interesseira.
Os profissionais desses veículos são poupados e resguardados nas situações de conflito das manifestações. A Band já teve um cinegrafista entre as vítimas fatais das manifestações. Seria bom deixar de acreditar e estimular a ideia de que pimenta, bomba e bala de borracha nos olhos dos outros é refresco.
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Mauro Donato, DCM