Projeto mostra o cotidiano de mulheres trans: "Aqui elas são vistas e ouvidas como qualquer outra pessoa que tem seu cotidiano e estabelece naturalmente sua relação com o mundo"
Transexuais e travestis não são estereótipos. São pessoas, com personalidades, sonhos e histórias de vida diversas e ricas, e merecem não só respeito mas o direito de serem vistas como pessoas acima de tudo. Esse é o pensamento do coletivo Além, que se unem à luta pelo respeito à diversidade e criaram o ensaio político-poético“Além do Gênero”.
Leia abaixo o depoimento de Renata Peron, cantora paraibana de 34 anos. Para mais histórias, acesse Além do Gênero.
“Sou Renata Peron, tenho 34 anos, vim da Paraíba, sou guerreira e militante. Sou cantora de música popular brasileira, sou uma mulher transexual. Viver como mulher transexual nesse país é uma luta diária, o preconceito ainda é muito grande, e o pior é o preconceito velado, onde as pessoas não falam mas te olham e te criticam. Você precisa ter uma força interior muito grande pra não pirar. Falta amor nas pessoas. Está difícil conviver em harmonia, mas estou tentando, assim como muitas amigas minhas.
Me entendo como transexual há muito tempo, mas tive que viver escondida no corpo de um rapaz sem assumir minha transexualidade, pois achava que sendo assim eu ficaria protegida das agressões e das violências. Segurei minha onda até 2007, quando fui agredida por 9 rapazes e acabei perdendo um rim. Aí percebi que não adiantava me esconder, muito pelo contrário, tinha mais é que abrir as portas de dentro de mim para a Renata sair.
Toda pessoa tem o direito de ser quem ela é, e o estado tem que proteger esse direito. Lutamos pela busca de uma política de inserção para as travestis e transexuais na área da saúde, da educação, do trabalho, do entretenimento.
A ideia retrógrada de que travesti só pode estar na rua sendo prostituta é culpa da própria sociedade. Nós é que deixamos essas meninas à margem quando a gente não aceita contratá-las, quando não aceitamos fazer um treinamento com elas, quando não aceitamos elas da forma como elas são e tentamos modificá-las. Não adianta contratar uma travesti porque ela é limpinha, porque é educada, porque sabe se comportar.
São muito mais travestis que não têm esses perfis do que as que têm. Então vamos pegar apenas as meninas que estão moldadas? E as que nao estao moldadas, o que podemos fazer? O que fazer pra ajudar essas meninas que não têm leitura, que não foram pra escola, que querem largar a vida da prostituição mas não largam porque ninguém chega perto. O que podemos fazer?”
com informações de Me Representa