Categories: Copa do Mundo

Abastados e abestados

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André Falcão*

Tudo bem que a grande mídia errou feio em suas previsões de caos, fosse pela ação dos covardes mascarados, fosse pela vaticinada incompetência dos brasileiros de fazer uma Copa pro mundo ver, com seus estádios e aeroportos inacabados, voos atrasados, transporte ineficiente… Mas não errou quando decretou que morreríamos de vergonha, embora não pelos prognósticos desastrosos (com trocadilho) desejados ― martelados diariamente no tutano dos brasileiros ao longo de três anos, tanto dos que lhes faziam coro, como dos que se insurgiam por vê-los amesquinhados pelo interesse político-eleitoreiro.

Numa, o xingamento, que não me permito reproduzir aqui, à mulher-mãe-cidadã-presidenta-do-Brasil, já por mim aludido outrora; noutra, a vaia ao hino do Chile, sob os olhares e ouvidos atônitos e incrédulos dos seus filhos que nos visitavam, minoria no estádio. Esses atos vieram para mostrar ao mundo o retrato de parcela (minoria!) da sociedade brasileira, justamente a mais abastada ou remediada, com maior graduação acadêmica e profissional, pois. Embora a cores, um instantâneo já carcomido pelas traças e ácaros da covardia (agigantam-se porque em maioria), do desrespeito a um país e ao seu povo que lhe visita (xenofobia, racismo?), da irracionalidade tão animalesca quanto abobalhada (teriam vaiado os hinos da Europa rica ou dos EUA? Duvideodó).

A última, no futebol: o vexame protagonizado por nossa seleção. Ao largo da análise das razões para tanto, detenho-me na já previsível atitude dos vira-latas (expressão de Nélson Rodrigues) e dos que no fundo sempre torceram contra: a pueril (ignorância mais covardia, isto sim!) tentativa de tirar proveito político-eleitoral da triste goleada sofrida pelo escrete canarinho. Jesus, Maria, José! Se não o conhecimento da história, será que nem ao menos as eleições e copas experienciadas lhes ensinaram que não é assim que se faz gol (ou que se conquista voto)?

Os grandes grupos midiáticos, por sua vez, quando não se regozijam despudorada, ou disfarçadamente, com o insucesso da seleção, fingem-se alheios aos fracassos de suas previsões como se nada lhes dissesse respeito. Isto quando não têm o desplante de vir a público reconhecer seus “erros” de prognóstico, como se de meros enganos se tratassem, e não de verdadeiro crime contra a economia do país.

Como se vê, perto de todo esse pessoal, a vergonha pela derrota da seleção é pinto.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político