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Copa 2014: turistas gastaram quase 4 Maracanãs só no Rio de Janeiro

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Turistas que visitaram o Rio durante a Copa pagaram quase quatro Maracanãs. Evento foi uma das melhores temporadas turísticas em faturamento da história da cidade. Visitantes deixaram R$ 4,4 bilhões na economia

Fifa FanFest em Copacabana, Rio de Janeiro (Imagem: Fotospublicas)

Para os torcedores alemães, o apito final da Copa do Mundo de 2014 representará, para sempre, o fim de um jejum de títulos mundiais que já durava 24 anos. Para os cariocas, no entanto, o período da competição simbolizará uma das temporadas turísticas de maior faturamento da história. De acordo com levantamento da Riotur, os 886 mil turistas que aportaram no Rio para acompanhar as partidas da Copa deixaram uma receita superior a R$ 4,4 bilhões para da cidade. O valor é quase quatro vezes o que o gasto nas obras de reforma e adequação do Maracanã ao Padrão FIFA, que custaram em torno de R$ 1,2 bilhão.

Apesar de superadas as expectativas de público e crítica, a realização do torneio marcou alguns pontos frágeis da cidade que devem ser aperfeiçoados até as Olimpíadas de 2016, de acordo com as secretarias Estadual e Municipal de Turismo. “Nos próximos dois anos, o Rio contará com 15 mil novos quartos na rede hoteleira. Desses, cerca de dez mil se concentrarão na Barra da Tijuca”, garantiu o responsável pela pasta Estadual de Turismo, Cláudio Magnavita.

A escolha do bairro, onde se concentrará grande parte das instalações olímpicas, visa descentralizar o eixo hoteleiro da cidade, hoje na Zona Sul. Durante a Copa, 93,8% da rede permaneceu ocupada. Entre os hotéis cinco estrelas, a taxa chegou a 96,15%. Os preços abusivos de diárias comercializadas pelas empresas do Grupo Match — investigado pela Polícia Civil do Rio no escândalo de venda ilegal de ingressos da Copa e que tinha exclusividade da Fifa na venda de pacotes — foi definida pelo secretário como “cambismo oficial”. Segundo ele, a empresa chegava a vender as diárias pelo dobro dos valores cobrados pelos hotéis.

Veja aqui arte produzida pelo jornal O Dia

O baixo número de voluntários fluentes em línguas estrangeiras e de sinalizações e cardápios em espanhol foram, de acordo com a Setur, foi a principal queixa de turistas. Para sediar as Olimpíadas, o órgão anunciou a criação de um programa de capacitação trilíngue até 2016.

Serão criadas seis áreas para camping

A surpreendente chegada de cerca de 900 motorhomes à cidade, vindos de países latino-americanos, durante a Copa,não “se repetirá”, garantiu o secretário Cláudio Magnavita. De acordo com ele, o Rio estará preparado para uma demanda semelhante à esta, em 2016.

“Teremos estrutura para abrigar esse tipo de turismo. Criaremos, pelo menos, seis áreas públicas adaptadas para camping, em áreas de Parques do Inea, e estudamos parcerias com municípios das regiões Serrana e dos Lagos”, disse.

Para o secretário municipal, Antônio Pedro Figueira de Mello, a acomodação dos veículos no Terreirão do Samba, Sambódromo e no Centro de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão, mostraram a capacidade da cidade de se adaptar. “Carregamos as experiências de outros carnavais. Os argentinos que vieram para a Copa simbolizam o público novo que conquistamos. Não fosse a Copa, possivelmente eles nunca viriam ao Rio. Hoje, com certeza, eles estão encantados e pensam em voltar”, afirmou.

Antônio Pedro minimizou os atos de vandalismo, como pichações e depredação de patrimônio feitos na Passarela do Samba. “Ao final de toda festa, é necessária uma faxina ou conserto. Já era previsto esse contratempo. No geral, os turistas se comportaram bem”.

Rio foi a cidade-sede que recebeu mais turistas

O Rio foi a cidade que mais recebeu visitantes para a Copa e a que mais apareceu na mídia internacional, de acordo com levantamento do Ministério do Turismo. Dos que vieram ao Brasil, 63% passaram pela cidade. Outra pesquisa, da Setur, indica que a exposição da Cidade Maravilhosa em emissoras de TV estrangeiras, em 35 dias, foi maior do que a obtida ao longo dos últimos 10 anos. “A propaganda espontânea se deve ao fato de termos sediado o Centro de Mídia. Jornalistas estiveram aqui e se se encantaram pelo Rio”, disse Antônio Pedro, da Riotur. O Maracanã recebeu 515 mil pessoas e mais de 1 milhão assistiram aos jogos das areias de Copacabana.

Faturamento aumenta 50%

O setor de bares e restaurantes também registrou bons números em função do Mundial. Segundo o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio), houve um aumento de cerca de 13% no número de contratações temporárias, visando a competição.

O investimento em mão de obra valeu a pena: o faturamento em regiões turísticas, de acordo com a pesquisa, registrou aumento de mais de 50%. Na Lapa, o acréscimo foi de 47%. Em Copacabana, Ipanema e Leblon, restaurantes tiveram o desempenho ainda melhor: 80%.

A fiscalização que coibiu a ação de vendedores ambulantes pela cidade foi citada pelos comerciantes como principal serviço da prefeitura. “Em dois anos, temos mais um grande desafio pela frente com a realização da Rio 2016. Precisamos nos planejar ainda mais”, afirmou o presidente do SindRio Pedro de Lamare.

Mundial injetou R$ 4,4 bi no Rio

A seleção brasileira pode ter perdido a Copa, mas, do ponto de vista econômico, o país bateu um bolão, contrariando as previsões dos mais pessimistas. Só no Rio de Janeiro, a cidade mais visitada nesse período, a receita com o Mundial foi de R$ 4,4 bilhões, informou ontem a Secretaria Municipal de Turismo, ao divulgar balanço do evento. De acordo com a Prefeitura do Rio, esse número superou em muito a expectativa de R$ 1 bilhão anunciada antes do evento pelo Ministério do Turismo.

Os dados mostram que o número de turistas na cidade chegou a 886 mil e que a maioria deles (471 mil) era estrangeira. O gasto médio dos visitantes na cidade foi de R$ 639 por dia, e a permanência média foi de nove dias. Além disso, a taxa média de ocupação da rede hoteleira foi 93,8%, chegando a 99,75% na final, informou a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH).

O secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo, destacou que o evento trouxe para o Rio de Janeiro turistas que não necessariamente pensavam em vir à cidade: “Por isso, é tão importante o fato de terem avaliado bem e declarado que recomendariam o Rio quando voltassem para casa. É um público que precisamos cativar”, acrescentou o secretário.

Uma pesquisa de satisfação, promovida a pedido da prefeitura, apontou que 98,3% dos estrangeiros recomendariam o Rio a seus parentes e amigos.

De acordo com o levantamento, 76% dos estrangeiros entrevistados consideraram a segurança pública e a limpeza na cidade ótimas ou boas, índice que chegou a 97,1% no quesito hospitalidade do carioca.

Além disso, uma pesquisa do Datafolha mostra que 83% dos estrangeiros aprovaram a organização da Copa no Brasil e 69% disseram que gostariam até mesmo de morar no país.

Evento vai contribuir com 0,6% do PIB brasileiro

Um dia após o término da Copa do Mundo no Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) havia estimado injeção de R$ 30 bilhões na economia do país. O montante equivale a cerca de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A projeção foi feita a partir de um estudo sobre o impacto econômico da Copa das Confederações, que aconteceu em junho de 2013 nas cidades-sede de Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. De acordo com o levantamento, o torneio do ano passado adicionou R$ 9,7 bilhões ao PIB nacional.

Entre as entidades consultadas pela pesquisa, o banco Itaú previu que o torneio incrementaria ao PIB entre 1% e 1,5%, efeito que começou em 2011, com o início das obras, que geraram emprego e renda no país. A estimativa foi baseada no que ocorreu em outros países que sediaram o evento.

Gabriel Sabóia, O Dia