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Talvez você seja um experimento de Popper. Talvez a Raquel de Blade Runner

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Por Camille Helena Claudel* 

Quando ocorreram as trágicas, (agora sabemos devido ao retrocesso e condenações à morte) jornadas da primavera árabe, fui tomada por um senso de Déjà Vu, confesso.

Durante minha estadia na Europa, tive a oportunidade de conviver com vários ucranianos e outros imigrantes, seja em instituições de ensino ou ajuda humanitária.  Perguntados sobre a vida em seu país, reportavam-me uma realidade dura e as novidades no lado da União Europeia (UE) eram consideradas a certeza de uma vida melhor.

Já em 2012, uma pesquisa revelava que 80% dos imigrantes ucranianos eram mulheres envolvidas em trabalho doméstico, um fenômeno recente se comparado aos países da área.

As ucranianas que conheci, faziam tarefas como cidadãs de” segunda classe” ilegais. Elas estavam no centro da economia informal junto com polonesas e romenas, sejam como babás, cuidadoras ou faxineiras e outros. Muitas delas possuíam curso superior e estavam na maturidade dos seus 40 anos fazendo cursos extensivos e graduação. Questionadas, os discursos eram sempre de mandar dinheiro para família ou comprar um celular. Depois disso, voltar para o país de origem após algumas temporadas de trabalho ” in nero ” (ilegal).

Penso (conhecendo bem) em como estas pessoas se decepcionaram com a não entrada da Ucrânia na UE quando esta acenou com “tamanha benevolência’. Ali, estava a solução para anos de trabalho análogo a escravidão.

Dentro deste contexto, fica claro parte dessas forças externas que atuaram na Ucrânia sem uma visão mais amiúde de tudo que estaria em jogo.

Entretanto, devido as circunstâncias atuais, parece que os cidadãos ucranianos estão descobrindo que a União Europeia não é aquela que o marketing e a idealização inicial “contou”. Dados recentes comprovam a mudança inevitável:

TAXA DE DESEMPREGO MENORES DE 25 ANOS
Alemanha – 7,8%
Espanha – 54%
Eurozona – 23,3%
França – 22,5%
Grécia 57,7%
Itália – 43%
Portugal – 34,8%
Fonte: Eurostat – Maio/14

Essa é a realidade da UE hoje.

Os dados acima, tornam muito compreensível que o governo ucraniano à época dos eventos fizesse a escolha pela estabilidade russa e não entrada na União Europeia.

Trata-se de objetividade e realismo diante de um novo contexto. Se agrava também uma espécie de conjunção profana no encontro da esquerda e direita radicais em diversos eventos da atualidade, festejadas inclusive na arte geral, obras digitais a exemplo da recente exposição em Viena, reunindo várias obras sob o título de “EU SOU UMA GOTA NO OCEANO” [sic] e cinema, além de obras não tão diretamente ligadas a Ucrânia.

Esse fato, tem enfim despertado a atenção de muitos para a propagação de um determinado conceito, dito isso, volto a uma afirmação vista em alguns jornais: a parte ocidental da Ucrânia é mais propensa a receber influências externas além de ser mais jovem. Os jovens são mais propensos a esse contato midiático. Talvez sejam, mas de um fascínio fugaz e pouco analítico.

Os jovens vivem um desejo por realizações pessoais e embevecidos por fazer história. No entanto, o enredo se assemelha as telenovelas na sua produção, visto que os atores muitas vezes não sabem o que o autor lhes reserva, utilizando-os ao sabor da audiência e interesses momentâneos dos anunciantes.

Tal fato, pode ser comparado à formação vista na Ucrânia, em um estado que se aproxima cada vez mais de ser um grande conglomerado financeiro sem regras claras para a população e instituições democráticas. Devido a isso, o país enfrenta uma longa crise onde surge a necessidade e já pré-acordada na transição de mais empréstimos para pagar dívidas já “insolventes”, deixando de se investir no país.

Dentro deste contexto, agentes externos pedem mais das antigas e escabrosas alianças ucranianas com o fascismo. O Estado Russo que pague a conta, passivamente, dos acordos desfeitos, mas isto não vai acontecer. Agora, não há mais espaço para opiniões ou dissidências entre todos os desiguais envolvidos, imersos num mesmo poço inesperado.

Mergulhados em uma crise de morte e vida barbaresca, a Ucrânia sedimenta o modus operandi percebido já no Egito, Líbia (salvo particularidades culturais, obvio). Aos poucos, vai tomando corpo a teoria que muitos desconhecem e insistem em repetir mundo afora, sem perceber que sufocará o direito a manifestação e escolha chamados por muitos de democracia.

Um dado importante nos últimos acontecimentos dessa novela que tem sido escrita em várias partes do planeta é um filosofo nascido em1902 em meio a efervescência cientifica do período, Karl Popper.

Para ele uma teoria só é considerada cientifica se puder ser contestada. Popper talvez não seja tão conhecido nestas sociedades, mas teve como seu discípulo o magnata George Soros. Ele junto a outros agentes mais ou menos conhecidos, leva às últimas consequências (como sociopatas, digamos) os conceitos de Popper na vida das massas.

A teoria só é cientifica se possibilita a contestação exitosa ou não. Mas como isso se aplica na Ucrânia? A resposta é Open Society Fondation (OSF).

Nome originário de um conceito do filósofo francês, estudioso da memória, o que é imensamente relevante para nosso argumento já que a memória é uma construção mental e sofre diversas influências nessa construção, entre outras coisas Henri Bergson.

A primeira fase da OSF foi como organização criada para fazer a transição comunista para um sistema de capital. A Open Society tem muitos serviços prestados com esse fim, ela pertence a Soros, “muito entusiasta dos movimentos sociais” e com muitos tentáculos em países no Oriente Médio, África e emergentes. Ao todo 60 países no mundo. Soros é também um hábil homem de negócios. Soros, tem textos onde exorta jovens ucranianos por volta de 07 abril deste ano: Mantenha o Espírito de Maidan Vivo , direcionado aos jovens da Ucrânia . Conclama pessoalmente ucranianos a contestar.

George Soros, aproveita essa sede de contestação natural que é parte da busca da identidade, inerente ao jovem e na ideia dessa “Sociedade Aberta” um conceito social de Karl Popper seu mentor a “resistência” é contraditório sua vida e ações ao discurso que faz, é maleável em diversos momentos.

Investe em várias ações para alcançar seus objetivos. Se vale de diferentes abordagens, métodos, paradigmas e muitos formadores de opinião sempre “ uns jovens contestadores”, “repetidores independentes”, ligados a sua obra.

Não à toa o nome dado a esse organismo criado por Soros teve em suas duas edições, mudando o nome, mas mantendo sempre a “ Open Society”: é o conceito do mestre Popper, que definiu assim a sociedade aberta: “Um lugar em que os indivíduos são confrontados com decisões pessoais”.

Distanciando por fim das escolhas tradicionais e coletivas do tribal, o que seria uma evolução natural segundo ele.

Voltando a Bergson, o estudioso da memória, podemos encontrar a conclusão que definem as ações de cidadãos ucranianos (ou não pelo mundo das manifestações) simples, jovens e criando sociedades convulsionadas pelos agentes da tese de Popper que se regozija no túmulo.

O capitalismo sempre se utilizou dessas maquinações e do desconhecimento de propagação de conceitos. Soros parece negar Popper para um leitor menos atento, mas muito pelo contrário, o utiliza para um mais perspicaz observador de forma sistemática e coerente.

Quando se ver o filósofo porém, não o identificará com sociedade aberta democrática ou capitalismo laissez-faire, mas sim com um “quadro crítico de espírito por parte do indivíduo” (nem esquerda, nem direita o q eu quero é “liberdade’?).

Os manifestantes agem de acordo a interesses comuns, em um grupo de qualquer espécie ao utilizar um discurso de sociedade que se rebela, de forma criticar, e despreza o conceito de esquerda ou direita para aderir a só sua individualidade, e mistura diferentes ideologias. Cria-se então, uma pasta humana que serve aos aliciadores e multiplicadores de organizações como a OSF, mas não ao público.

É uma mudança rumo ao desconhecido. Aplicado tão bem por Soros quando “reconhece a força emocional de continuar”, do que o filósofo chamou de “espírito de grupo perdido do tribalismo”, tal como se manifesta por fim, por exemplo, nos totalitarismos do século passado.

Isso que na prática foi a aposta no Egito e está se dando na Ucrânia por exemplo.

Para aqueles sem nenhuma consciência de como seus anseios pessoais são usados em benefício de algumas experiências de negócios lucrativas, e de sobrevida do sistema, abrindo novos parceiros em nações que serão mais dependentes, gerar mais empréstimos e menos cooperação com parceiros próximos geográfica e culturalmente.

O sucateamento da memória de um povo é condição sem a qual ao se crer independentes e em novos movimentos ” supostamente” sem lideres, sem partidos e sem fins objetivos se repetem alguns eventos.

Para articuladores financistas ainda é prazeroso poder olhar as teorias apreendidas na juventude sendo provadas (implementadas) arriscar em meio aos momentos de lazer com as massas, entre os negócios, a sociedade aberta e o seu teste sendo aplicado como teoria social em constante aperfeiçoamento ao sabor do contexto em que se aplica.

O discípulo nega e se mostra critico, mas está aplicando perfeitamente seu mestre que se sentiria homenageado.

Ps: Quando criança pensava e dizia à minha mãe que tudo que repetimos massivamente já foi pensado e disposto por algum professor em uma universidade pelo mundo.

*Camille Helena Claudel é uma pesquisadora, historiadora e licenciada. Nascida no Brasil, estudou na Itália, Espanha e Alemanha onde trabalhou com projetos sociais e culturais. É autora do blog Café com História