25 verdades que você precisa saber sobre Israel e Gaza
25 verdades sobre o assédio de Israel a Gaza. Desde o início dos ataques, pelo menos 10 crianças perderam a vida por dia; cerca de 250 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas
Salim Lamrani*, Opera Mundi
Ao contrário do que afirmam as autoridades israelenses, o atual bombardeio de Gaza tem como objetivo romper a união nacional entre o Fatah e o Hamas, e impedir a retomada do processo de paz. Confira 25 verdades sobre o assédio de Israel a Gaza:
1. Em 2005, Israel se retirou formalmente da Faixa de Gaza e desmantelou suas colônias de povoamento. Na verdade, o exército israelense dispõe do controle total do espaço aéreo e marítimo do enclave, ocupa uma zona-tampão no interior de Gaza, controla a única zona comercial do território palestino no exterior, assim como a circulação de pedestres em Erez, que liga Gaza à Cisjordânia e a Israel, e mantém os registros de estado civil.
2. Desde 2007, Gaza vive sob bloqueio israelense e egípcio. Segundo a ONG israelense GISHA, os habitantes do enclave são privados de muitos produtos básicos (geleia, vinagre, chocolate, frutas enlatadas, grãos, nozes, bolachas, doces, batatas fritas, gás para bebidas gaseificadas, frutas secas, carne fresca, gesso, asfalto, madeira de construção, cimento, ferro, glicose, sal industrial, recipientes de plástico/vidro/metal, margarina industrial, base de asfalto para cabanas, tecido para roupas, varas de pesca, redes de pesca, cordas para pesca, molinetes e peças de reposição, peças de reposição para tratores, mangueiras, instrumentos musicais, papel formato A4, materiais para escrever, cadernos, jornais, jogos, lâminas de barbear, máquinas de costura e peças de reposição, cavalos, asnos, cabras, gado, pintinhos etc).
3. Com uma superfície de 360 km² e uma população de 1,7 milhão de habitantes, Gaza tem a maior densidade do mundo com mais de 4700 habitantes/km². Em estado de sítio militar, com uma taxa de desemprego de 40% (60% entre os jovens de 15 a 29 anos), 53% da população com menos de 18 anos de idade, a população sobrevive em condições próximas à indigência. Mais de 70% dos palestinos dependem de ajuda humanitária.
4. O sequestro e assassinato de três jovens adolescentes israelenses em junho de 2014 serviram de pretexto para que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu desatasse uma nova agressão mortífera contra a população civil de Gaza.
5. Até hoje, não existe prova da implicação do Hamas nesse crime. Ao contrário, os dirigentes da organização armada palestina negaram toda a responsabilidade pelo ato. No dia 25 de julho de 2014, Jon Donnison, correspondente da BBC, informou que Micky Rosenfeld, porta-voz da polícia israelense, reconheceu que o Hamas não estava envolvido nos assassinatos e que se tratava, provavelmente, da ação de um “grupo isolado”.
6. Durante os dias que seguiram o rapto dos três jovens judeus, o exército israelense lançou uma ampla operação militar e prendeu cerca de 350 palestinos, entre os quais a maioria dos líderes do Hamas na Cisjordânia – incluindo deputados e o presidente do Parlamento palestino Aziz Dweik – e assassinou cinco pessoas. Além disso, um jovem palestino foi queimado vivo por extremistas israelenses.
7. Em resposta a essa ofensiva militar, o Hamas começou a disparar foguetes contra várias cidades israelenses e exigiu a suspensão do bloqueio contra Gaza prevista nos acordos de cessar-fogo de 2008 e 2012, assim como a liberação dos presos políticos palestinos.
8. A partir de 8 de julho de 2014, Israel lançou a Operação “Margem Protetora” e bombardeou a população civil de Gaza, causando milhares de mortes e mais de 10 mil feridos. O objetivo oficial era destruir os túneis que permitem incursões dos combatentes do Hamas em território israelense.
9. Até o dia 3 de agosto, os incessantes bombardeios do exército israelense provocaram a morte de pelo menos 1439 palestinos, entre os quais 90% são civis e ao menos 250 são crianças, segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
10. Jon Snow, jornalista do canal de televisão britânico Channel 4, viajou para Gaza e deu seu testemunho: “a média de idade dos habitantes de Gaza é 17 anos. Cerca de 250 mil crianças têm menos de 10 anos. Então, se decidem lançar foguetes e bombardear etc. essa área urbana densamente povoada, matarão crianças inevitavelmente. E é o que Israel faz”.
11. Do lado israelense, segundo as cifras oficiais, 63 soldados e três civis perderam a vida depois dos ataques do Hamas e de outras facções armadas palestinas.
12. No dia 22 de julho de 2014, Majed Bamya, porta-voz da diplomacia palestina, denunciou a hipocrisia ocidental em uma entrevista ao canal de televisão francês France 24: “Deixem-me entender: o Hamas, que nessa agressão israelense e nesta guerra provocou a morte de 27 pessoas, sendo 25 militares do exército de ocupação, seria uma organização terrorista e criminosa, enquanto os que causaram a morte de 530 pessoas, entre as quais 90% eram civis e mais de 100 crianças, seriam o país civilizado nesse conflito? […] Não é porque existe uma rebelião de escravos que a escravidão é aceitável”.
13. No dia 14 de julho de 2014, o Hamas rejeitou uma proposta egípcia de cessar-fogo, considerando-a uma “rendição”, já que não incluía nem a suspensão do bloqueio nem a libertação dos presos políticos, enquanto ela foi aceita por Israel.
14. No dia 18 de julho, o exército israelense lançou uma invasão terrestre sobre Gaza, para a qual destacou 70 mil soldados.
15. No dia 19 de março, o Hamas apresentou uma proposta de trégua em sete pontos. No dia 24 de julho, o projeto de trégua proposto por John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos, foi rejeitado por Israel.
16. No dia 28 de julho, um míssil israelense matou 4 crianças que brincavam na praia perto do campo de refugiados de Al-Shati, em frente às câmeras de televisão internacionais, suscitando uma comoção mundial.
17. Desde o começo dos bombardeios, o exército israelense destruiu três escolas das Nações Unidas, causando a morte de dezenas de pessoas, entre as quais numerosas crianças. No dia 23 de julho, um míssil atingiu a escola da Nações Unidas de Beit Hanun. No dia 29 de julho, a escola das Nações Unidas Jabalya foi bombardeada pelo exército israelense, provocando a morte de 16 pessoas, entre as quais pelo menos 6 crianças. Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, denunciou esse crime e lembrou que “a localização exata dessa escola primária foi comunicada 17 vezes às autoridades israelenses, particularmente durante a noite, apenas algumas horas antes desse ataque”. No dia 3 de agosto, o exército israelense bombardeou uma terceira escola das Nações Unidas em Rafah. Segundo a ONU, “há muitos mortos e feridos”.
18. Segundo a UNICEF, desde o início dos bombardeios, pelo menos 10 crianças perderam a vida por dia. Pernille Ironside, responsável pela UNICEF em Gaza, denunciou o massacre e lembrou que “as crianças são mortas, feridas, mutiladas, e queimadas além de estarem absolutamente aterrorizadas”.
19. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 250 mil pessoas tiveram de fugir das zonas de combate e se encontram atualmente sem teto.
20. Navy Pillay, alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, acusou Israel de cometer “crimes de guerra” ao bombardear escolas das Nações Unidas e hospitais.
21. Em 31 de julho, Netanyahu mobilizou outros 16 mil soldados adicionais [para o conflito], elevando o número para 86 mil.
22. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adotou uma resolução com uma maioria de 29 votos (17 abstenções, 1 voto contra) que foi apresentada à Palestina, condenando “as violações generalizadas, sistemáticas e flagrantes dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”. A resolução exige também colocar a população palestina sob “proteção internacional imediata”.
23. Nos últimos dez anos, Israel construiu ilegalmente mais de 100 mil novas colônias nos territórios ocupados, violando o direito internacional, e detém atualmente mais de 6 mil presos políticos palestinos.
24. Apesar dos pedidos por um cessar-fogo, os Estados Unidos e a União Europeia seguem apoiando econômica e militarmente Israel, apesar das reiteradas violações do direito internacional e dos crimes de guerra atualmente cometidos em Gaza. Por sua vez, a América Latina adotou uma posição diferente, exigindo que se interrompam as hostilidades, a suspensão do bloqueio e a retomada do diálogo entre as duas partes. Em um comunicado conjunto, os presidentes do Brasil, da Argentina, do Uruguai e da Venezuela “condenaram de forma enérgica o uso desproporcional da força por parte do exército israelense na Faixa de Gaza, que afeta majoritariamente civis, incluindo crianças e mulheres”. Brasil, Equador, Chile e Peru retiraram seus embaixadores de Israel. Cuba, Venezuela e Bolívia já romperam suas relações diplomáticas.
25. Na verdade, a Operação “Margem Protetora” não tem como objetivo destruir os túneis que serão inevitavelmente reconstruídos enquanto dure o bloqueio, a menos que aconteça uma nova ocupação militar de israelense em Gaza. Essa nova agressão militar contra uma população sem defesa é destinada a romper a união entre o Fatah e o Hamas, que formaram um governo de união nacional no dia 2 de junho de 2014 – iniciativa aplaudida pelos Estados Unidos e pela comunidade internacional, mas rejeitada por Israel – com a finalidade de impedir a criação de um verdadeiro Estado palestino e continuar, assim, sua política de colonização. A única solução para o conflito israelense-palestino é de ordem política e transita pelo respeito ao direito internacional, isto é, pela aplicação da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas número 242 de 22 de novembro de 1967, com retirada total do exército israelense de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, desmantelamento de todas as colônias ilegais, respeito às fronteiras de 1967 e retorno dos refugiados palestinos. Somente o diálogo e a negociação entre as duas partes permitirão o estabelecimento de uma solução pacífica com dois Estados.
* Salim Lamrani é Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos