Ser contra ou a favor do bolsa família não é uma “simples diferença de opinião entre pessoas decentes”. Ser contra é imoral
Outrofobia. Claudia Regina e Alex Castro
Claudia Regina:
O valor inicial do bolsa família é de R$ 77 por pessoa. Variáveis podem fazer o benefício chegar até no máximo R$ 175. O programa beneficia mais de 50 milhões de cidadãs e cidadãos.
Existem casos de abuso? Claro. Eles também acontecem no “Ciência Sem Fronteiras”, programa que dá para cada estudante milhares de reais mensalmente, e não setenta e sete.
E aí, eu me pergunto: como é que alguém é contra isso? Como é que alguém é contra tirar milhões de pessoas da linha da pobreza dando menos de duzentos reais por mês pra cada uma elas?
Realmente, não entendo. Mas pode ser coisa minha, já que também “mamo nas tetas do governo” desde sempre, afinal estudei da primeira série à faculdade em instituições públicas e uso o SUS.
Conte-me um causo de pessoa de baixa renda que não quer trabalhar (abusando do bolsa família), e lhe trarei mais dez casos de gente da classe média que não quer trabalhar (abusando do seguro desemprego) e gente da classe alta que não quer estudar (abusando de capes e afins) Causos particulares não dizem nada sobre toda uma classe ou sobre todo um programa. aprendi com a vida que pessoas aproveitadoras existem em tudo quanto é canto.
VEJA TAMBÉM: Quem é contra o Bolsa Família ou é mal informado, ou mal intencionado
Conte-me como o bolsa família é um programa eleitoreiro, e lhe conto que ele foi criado por um partido de “direita”, expandido por um partido de “esquerda”, e que ambos hoje se comprometem a manter o programa. Lhe mostrarei também que “dar um pouco de dignidade para minha família” não é ter um voto comprado, é só ter um ótimo motivo para votar em alguém em uma democracia.
Conte-me sobre como seria melhor investir em educação e saúde, e te direi, um pouco decepcionada: “sério que você acha que é simples assim?”
Conte-me como o benefício é “dado de mão beijada”, “é dar dinheiro sem pedir retorno” e “é dinheiro fácil” e te lembrarei que o google está aí, não tenha preguiça: é só fazer uma busca rápida para descobrir todas as obrigações que devem ser seguidas para ganhá-lo.
Conte-me que o bolsa-família não soluciona todos os nossos enormes problemas sociais, e te perguntarei: “onde é que você ouviu alguém dizendo isso?”
Quem é contra sempre vem com um causo particular ou com afirmações generalizantes. Quem é a favor responde com fatos, com casos universais e com estatísticas. Acho que isso já diz tudo.
Alex Castro:
Certas coisas não podem ser somente “diferença de opinião”:
“Somos duas pessoas boas e éticas e morais e interessadas no futuro do Brasil e na felicidade das pessoas brasileiras, apenas temos uma discordância de opinião política, pois eu sou contra o bolsa família e você é a favor.”
Desculpa. não consigo mais aceitar isso.
Não dá para acreditar nessa hipotética pessoa boa e justa e honesta e moral e ética (podem continuar empilhando adjetivos positivos) que seja sinceramente contra que cinquenta milhões das nossas pessoas cidadãs mais vulneráveis recebam uma ajuda que vai até R$175.
Ainda mais quando, para a santa pessoa emitindo essa idônea opinião, R$175 é o que ela gasta num jantar.
Para nós, o Bolsa-Família é uma questão ética.
Ser contra não é só uma “discordância de opinião entre pessoas decentes”. Ser contra é imoral. ser contra é ser canalha.
Para terminar, confira abaixo dois links para passarmos para todas as pessoas canalhas, (…), digo, que tenhas discordâncias ou dúvidas sinceras em relação ao Bolsa-Família:
— Bolsa família: um guia simplificado para idiotas, pelo excelente Bruno O. Barros, o @ilustrebob.
— Severinas: As novas mulheres do Sertão, por Eliza Capai, para a Agência Pública, sobre como o bolsa-família está transformando os papéis na vida e na sociedade de um grupo de mulheres no interior do piauí e permitindo que se libertem da servidão ao homem, milenar como a miséria.
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