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Imagens de uma tragédia

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Camisas com os dizeres “Não vamos desistir do Brasil” vestiam desde familiares e amigos a militantes espontâneos(?)

Desastres de avião geram comoção. Quando na aeronave há um político popular em seu estado natal, e ainda é candidato à presidência do Brasil, não se pode imaginar menos do que o estabelecimento do luto no país, e em seus eleitores um sentimento de vazio, quase orfandade, ainda que não ultrapassasse os 10% das preferências do eleitorado.

Assim é que a presidenta da república decretou luto oficial por três dias e suspendeu suas atividades de campanha, no que foi seguida pelo outro candidato melhor colocado nas pesquisas, Aécio Neves.

Alguns políticos do partido a que pertencia o jovem candidato manifestaram-se por igual respeitosa e discretamente. A expectativa natural é que se guardasse silêncio obsequioso ao menos até o dia do seu sepultamento. Que nada…

Já no dia do acidente, o irmão de Eduardo Campos dá entrevista pedindo aos brasileiros para refletirem… sobre os rumos do país(!), como se a tragédia trouxesse algum dado novo à reflexão sobre o tema!

Logo depois, afirma que o PSB deveria alçar Marina Silva à candidata no lugar de EC. Claro, com ele como vice (desejo não confessado, claro). Luto? Que luto?

Enquanto isto, o jornalão Folha de S. Paulo já estava com pesquisa nas ruas, perguntando ao eleitor quem deveria ser o candidato no lugar de EC, já que este falecera(!). Os comentaristas da mídia grande igualmente puseram-se a discutir, freneticamente, a sucessão de EC, escancaradamente pressionando para que Marina seja a escolhida, por nela enxergarem a possibilidade, real, de ao menos levar a eleição para o segundo turno, mesmo que fosse ela a disputar com Dilma. O primordial é tirar o PT.

VEJA TAMBÉM: As reações bizarras e infames à morte de Eduardo Campos

Descartar MS, depois, seria mais fácil. Não sei. Depois de sua declaração afirmando que a “providência divina” a impedira de estar naquele voo — não o fizera, porém, com EC —, melhor que a direita tenha cuidado com quem está mexendo. Messianismo? Talvez ela pense mesmo que sim.

O momento mais surpreendente, porém, foi testemunhado no velório, e protagonizado pela própria família do falecido. O que se viu ali mais se assemelhava a comício do que a cortejo fúnebre, palancório (mistura de palanque com velório) do que velório. Camisas com os dizeres “Não vamos desistir do Brasil” vestiam desde familiares e amigos a militantes espontâneos(?). No fim, as imagens que podem talvez falar mais do que tudo o que se possa pretender dizer: Marina sorridente posando para foto em cima do caixão; Lula se esvaindo em choro convulsivo.

*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político