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A influência da Globo no horário de funcionamento do Metrô-SP

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Ampliação do horário do Metrô de SP interessa à TV Globo. Especialista em mobilidade urbana diz que alteração do horário pelo governo Alckmin ocorre paralelamente à elitização do futebol

Alteração do horário do metrô de São Paulo interessa à Globo (Edição: Pragmatismo Político)

A ampliação do horário de funcionamento do Metrô de São Paulo, das 0h às 0h30 às quartas-feiras em que forem realizados jogos de futebol na capital paulista mostra que as medidas para melhoria dos serviços de transporte obedecem a critérios seletivos e elitizados e, neste caso, para favorecer interesses privados –em especial da TV Globo. A opinião é do Movimento Passe Livre (MPL). A medida foi anunciada na última semana, após reunião entre dirigentes do Corinthians e representantes do governo paulista, e vale para dias de partidas nos estádios Allianz Parque (o novo estádio do Palmeiras), Pacaembu, Morumbi e Canindé.

“A posição do movimento é de que essa medida do governo só reafirma que resolver os problemas do transporte público depende mais de vontade política do que de questões técnicas”, diz Monique Félix, militante do MPL. “E fica claro que a vontade do governo do estado nesse caso está do lado dos poderosos, tanto da Rede Globo como da população rica que passa a frequentar os estádios com a elitização do futebol, como ficou bastante claro na Copa do Mundo”.

Ela lembra que a demanda por expansão dos serviços de transporte não é recente. “Por muito tempo a população mais pobre da cidade colocou a demanda por mais transporte durante a madrugada, nos finais de semana, e ampliação dos serviços de transporte público, e isso é negado para a população periférica. Mas agora, pontualmente, é dado para outra parte da população”.

A constatação é de que a ampliação em meia-hora do funcionamento do metrô paulistano é positiva, mas só se deu por pressão de setores mais abastados e para evitar mexer com os interesses da Rede Globo, que considera intocável o horário de sua novela das 21h, que termina pouco antes das partidas em dias de semana. “A medida (do governo Alckmin) em si não achamos ruim, mas fica claro que tipo de reivindicação e de que setor social o governo vai atender, que não é da população pobre e periférica”, explica a militante do MPL. A TV Globo tem dois horários tradicionais de transmissão de futebol: quartas às 22h e domingos a partir das 16h ou 17h.

Na opinião de Monique, a elitização do futebol está em curso, embora o torcedor que hoje vai aos jogos do Corinthians na Arena Corinthians seja menos abastado que o torcedor da Copa. “O estádio do Corinthians tem ingressos caríssimos para qualquer competição. O público ainda não é tão elitizado, mas está num processo de elitização evidente, isso está bastante expresso”, aponta.

O ingresso mais “popular” da Arena Corinthians é de R$ 50 (atrás do gol, similar à antiga geral, setor que ocupa apenas 15% do estádio), passando por arquibancadas a R$ 80 e setores “Leste Inferior” a R$ 180, “Oeste Inferior” a R$ 250 e vip a R$ 400.

“A medida do governo, feita para se fazer uma concessão ao capricho de uma emissora de TV, coloca o serviço público a mercê de um ente privado”, afirma o jornalista Marcos Souza, editor do Mobilize Brasil, portal de conteúdo sobre mobilidade urbana sustentável que tem entre seus objetivos “pressionar governos para implantarem políticas públicas efetivas de mobilidade”.

“A ampliação do horário é um misto das duas coisas: tanto do interesse da Rede Globo (por não querer fazer modificação do horário da novela em sua grade) quanto do governo estadual, que mostra que atende à população mais rica, que tem poder de barganha junto ao governo do estado para pressionar pela mudança”, avalia Monique Félix.

Para o deputado Luiz Claudio Marcolino (PT), autor de um projeto de lei na Assembleia Legislativa que propõe a expansão gradual dos serviços do metrô em São Paulo, a medida do governo paulista é paliativa e, se houvesse de fato intenção de expandir o horário, o Palácio dos Bandeirantes apoiaria o Projeto de Lei 621/2011. “Podia-se aproveitar o PL que já tramita na Assembleia, previsto para ser votado agora em agosto, porque está trancando a pauta”, lembra Marcolino.

Segundo ele, a proposta não é de que o metrô comece a funcionar 24 horas todos os dias de imediato, mas que haja uma transição para que as necessidades da cidade sejam cada vez mais atendidas, gradativamente. “Poderia começar a funcionar nos finais de semana 24 horas, quando não tem manutenção, já que a desculpa do governo é de que não pode funcionar 24 horas por causa da manutenção”, propõe o parlamentar.

O controlador de tráfego e presidente da Federação Nacional dos Metroviários (Fenametro), Paulo Pasin, confirma em parte a informação sobre a manutenção do metrô nos fins de semana. “É feita manutenção de sexta para sábado e de domingo para segunda, mas não de sábado para domingo”, diz.

Ele explica que durante essa madrugada do fim de semana a via fica inclusive energizada e há treinamento de operador de trem, treinamento de resgate para atropelamento e outros, e também testes com trens reformados, por exemplo. “Nada impede que o metrô funcione na madrugada de sábado para domingo. Mas teria que transferir os treinamentos para outros dias e horários e, além disso, seria preciso contratar mais funcionários”, avalia Pasin.

Eduardo Maretti, RBA