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Lágrimas e Sangue

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Busca-se dizimar 1,7 milhão de gente miserável e desarmada, espremida numa faixa de terra de pouco mais de 350 km². Apenas ódio insano, ao cínico pretexto de combater-se o “terrorismo” do Hamas.

Em apenas 25 dias, cerca de 1500 palestinos mortos e 10.000 feridos, 80% de crianças, mulheres e idosos. Milhares de lares, hospitais, escolas (inclusive a da ONU), mesquitas, igrejas destruídos.

Aterroriza-me, sem trocadilho, imaginar a quantas estará o desastre quando esta crônica for publicada.

Do lado de Israel, e depois da ofensiva terrestre, morreram pouco mais de 60 pessoas, 90% soldados.

Busca-se dizimar 1,7 milhão de gente miserável e desarmada, espremida numa faixa de terra de pouco mais de 350 km2, de quem Israel — filhote assassino do império bélico estadunidense, que o apoia e o transformou na máquina de guerra ironicamente tão cruel quanto a nazista que os vitimou em meados do séc. passado — tomou quase tudo, inclusive a vida de sua população indefesa. Não há honra, não há lealdade, não há compaixão. Apenas ódio insano, ao cínico pretexto de combater-se o “terrorismo” do Hamas.

Criança palestina ferida após ataque israelense a uma escola da ONU, em Gaza. Foto: AP

Fotos de crianças dilaceradas pelas poderosíssimas armas de guerra pululam nas redes sociais chocando até o mais insensível dos seres. Famílias inteiras, ou a maioria de seus membros, mortas.

Milhares de ataques, 1/3 deles por mísseis, 2/3 por bombas. Dá pra imaginar o terror?

O governo brasileiro condenou veementemente os bombardeios israelenses com o uso desproporcional da força, além de ter chamado de volta ao Brasil para consultas o seu embaixador em Tel Aviv. O governo israelense, insolente e escancarando a sua pequenez, respondeu que desproporcional é perder um jogo por 7×1. Também chamou o Brasil de “anão diplomático”. O min. das Rel. Exteriores do país, por sua vez, respondeu que o “Brasil não usa termos que desqualifiquem governos de países amigos”, donde não teria “como comentar isso.” Mas lembrou que o Brasil é um dos únicos “11 países do mundo a ter relações diplomáticas com todos os membros da ONU” — “quando falamos somos ouvidos” —, além de incontestável histórico de cooperação pela paz internacional, donde se haveria algum “anão diplomático” não seria o país dos brasileiros. Graça Aranha deve estar revirando no túmulo.

No último dia 23 a ONU (até ela, sempre tão omissa) aprovou a criação de comissão internacional para investigar os ataques à Palestina. 29 países votaram a favor, 17 abstiveram-se (Alemanha, França, Reino Unido e Japão entre eles) e apenas um foi contra. Um doce para quem adivinhar quem. E outro para quem souber qual a revista semanal que condenou a atuação política do governo do Brasil no episódio.

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*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político