Artistas que aparentemente não precisam de tanto incentivo financeiro do governo continuam pedindo (e ganhando) dinheiro do Ministério da Cultura, através da Lei Rouanet
Emir Ruivo, DCM
O Ministério da Cultura aprovou um incentivo de pouco mais de 4 milhões de reais para a turnê do Luan Santana via Lei Rouanet. Não é novidade, apareceu em todo lugar.
De tempos em tempos aparecem artistas que não precisam do incentivo, ou que aparentemente não precisam, pedindo (e ganhando). Já foi Maria Bethânia, Claudia Leitte, Rita Lee, entre outros.
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A discussão também não é nova. Em geral, a comoção se faz porque o benefício, no imaginário das pessoas, só deveria ser concedido para quem precisa.
Na verdade, a Lei Rouanet não é para quem precisa. É para qualquer artista ou produtor artístico. Luan Santana é brasileiro e tem um produto artístico (a turnê) comprovado. O MinC não tem opção senão em aprovar – talvez não na sua totalidade, mas no essencial.
Tampouco importa se Luan é ou não bom cantor, bom compositor, brega, chique, bonito, feio. Se é cultura, é passível de incentivo.
Não vou entrar no mérito de como a lei deveria funcionar, ou mesmo se deveria existir. Para mim, obviamente, que deveria beneficiar só quem precisa, mas é muito complicado determinar isso. Por exemplo, a produtora Time For Fun precisa do benefício para fazer uma montagem do Rei Leão, que custou R$ 35 milhões. Mas ela precisa trazer esta peça?
Agora, o problema no caso do Luan, é o simples fato de ele ter pedido.
Luan Santana tinha, da última vez que consultei, um cachê alegado de aproximadamente R$ 300 mil reais, e uma agenda alegada de mais de 5 shows por semana.
Um parênteses: quem investiu na sua carreira foi seu pai, então a princípio não fica muito dinheiro pelo caminho.
Considere que esse número é real, e que Luan fica com R$ 200 mil de cada show. Dá 1 milhão por semana; 4 milhões por mês. Em um mês, Luan faturaria o que pediu para o MinC.
Esse é um número bruto. Pior que isso, é chutado. Pode estar bem errado (para os dois lados – pode também ser mais alto), mas deve ser próximo o suficiente para ilustrar o quanto pedir isso é absurdo, guloso, mesquinho da parte de Luan. Ainda que tenha uma cacetada de impostos, contratos extremamente complexos, deu pra entender o tipo de faturamento de que se fala.
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E o tipo de gula necessário para pedir dinheiro de imposto, que deveria ir para hospitais, escolas, metrô, ou no mínimo para outros artistas que não tem salário de 6 ou 7 dígitos, para levar “as raízes sertanejas por meio da musica romântica” (esse foi o argumento usado para o pedido) para onde quer que seja.