"Nós torturamos algumas pessoas...", disse Obama
Presidente Obama admitiu que a CIA utilizou técnicas de tortura em interrogatórios de suspeitos de terrorismo e justificou: "estávamos sob enorme pressão"
Em observações feitas durante coletiva de imprensa na Casa Branca sexta-feira, o presidente Obama resumiu a história de abusos praticados pela CIA após os ataques 11 de setembro, lembrando do “quanto as pessoas estavam assustadas” na época. Tudo isso depois de ter reconhecido em bom som: “nós torturamos algumas pessoas.”
Os comentários vieram em meio às novas controvérsias que envolvem as descobertas do Senado em relação aos abusos da CIA durante os anos do governo Bush.
“Eu tenho total confiança em John Brennan (comandante da CIA),” declarou Obama em resposta às questões dos repórteres que observaram que os senadores de seu próprio partido requisitaram a demissão de Brennan, pois a agência espionou os responsáveis pela investigação das torturas praticadas após o 11 de setembro e durante a invasão ao Iraque em 2003.
O presidente declarou que Brennan “reconheceu e se desculpou” pelo pessoal da CIA que, como Obama denominou, “não lidaram com a investigação de maneira apropriada,” pois “alguns documentos não foram autorizados a serem revelados pelo Senado.”
“Está claro a partir deste relatório que tiveram pouco discernimento ao lidarem com o assunto,” declarou Obama, apesar de ter defendido o homem que chefiava a agência ano passado. “Tenham em mente que John Brennan foi a pessoa que organizou uma força-tarefa com o intuito de garantir que as lições foram aprendidas e os erros resolvidos.”
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Obama acabou depois dando um passo atrás em relação a Brennan para poder se referir mais amplamente às políticas de tortura autorizadas pelo seu predecessor, George W. Bush.
“Logo após o 11 de setembro, fizemos algumas coisas que eram erradas,” declarou Obama. “Fizemos algumas coisas certas, mas… torturamos algumas pessoas.”
Obama continuou:
“Fizemos algumas coisas que eram contrárias aos nossos valores. Eu entendo o porquê disto ter acontecido. Eu acho que é importante, quando olhamos para trás, lembrarmos o quanto as pessoas estavam assustadas depois que as Torres Gêmeas caíram, o Pentágono foi atingido e um avião caiu na Pensilvânia: as pessoas não sabiam se mais ataques poderiam ocorrer. Havia enorme pressão sob nossas forças de segurança. É importante que nós não sejamos hipócritas em relação ao trabalho duro que estas pessoas tiveram. E estas pessoas que estavam trabalhando duro, sob enorme pressão, são verdadeiros patriotas.
“No entanto, fizemos algumas coisas erradas. E é sobre isso que este relatório fala. E esta é a razão pela qual eu, depois que assumi meu cargo, uma das primeiras coisas que fiz foi banir algumas das técnicas de interrogatório referidas no relatório. E minha esperança é que este relatório nos relembre mais uma vez que o caráter de nosso país deve ser medido em parte não pelo que fazemos quando as coisas são fáceis, mas o que fazemos quando são difíceis. E quando utilizamos algumas destas ‘técnicas de interrogatório aprimoradas’ — técnicas que eu acredito que qualquer pessoa imparcial chamaria de tortura — nós ultrapassamos uma linha. E isto deve ser entendido e aceito. E nós temos que, enquanto um país, assumirmos a responsabilidade por isso e não cometermos o mesmo erro no futuro.”
Jon Queally, do Common Dreams. Tradução: Roberto Brilhante