Cantora de 'Tecnomacumba' é proibida de se apresentar em evento de música gospel e financiado com dinheiro público. Rita Benneditto incorpora em seu show elementos de religiões afrodescendentes
A cantora Rita Benneditto teve seu show, conhecido como “Tecnomacumba”, vetado do evento “Quinta Gospel” pela Prefeitura de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Em sua última edição, Gilmar Olarte (PP), prefeito da cidade e também pastor evangélico, subiu ao palco e, antes que a artista gospel Cassiane iniciasse sua apresentação, afirmou: “Ninguém vai tentar misturar! Ela é evangélica. É de Deus”.
A “Quinta Gospel”- que ocorre sempre na mesma semana da “Sexta da Seresta”, outro evento promovido pela prefeitura – , foi criada por uma lei (nº 5.092), proposta pelos vereadores Lidio Lopes (PP) e Paulo Siufi (PMDB), e aprovada pela Câmara dos Vereadores em 2012. Sua estrutura e os shows que a compõem são financiados com dinheiro público, ainda que a Constituição Federal, em seu artigo 19º, proíba que o Estado subsidie “cultos religiosos ou igrejas”.
Benneditto, que soube da situação por meio de um site local, lamentou a decisão da Fundação Municipal de Cultura (Fundac) e disse que situação parecida nunca havia lhe acontecido, em 27 anos de carreira. “Uma fundação não pode, de maneira alguma, dar prioridade a determinados grupos religiosos e a outros não, porque a sociedade brasileira se constitui de um estado laico de direito, ou seja, tem direito a todas as suas crenças. São pontos que tem que ser levantados. É isso o que vale”, declarou, ao portal Lado B.
A diretora-presidente da Fundac, Juliana Zorzo, evangélica declarada e responsável pelo veto, se manifestou sobre o assunto também na última “Quinta Gospel”. “Essa prefeitura tem posicionamento e nós não deixaremos nada mudar isso”, assegurou aos fieis presentes.
A polêmica em torno da questão começou quando um cidadão enviou à Fundac, por meio do gabinete de Eduardo Romero (PTdoB), um ofício pedindo que Rita Benneditto, cujo show incorpora elementos de religiões afrodescendentes, pudesse se apresentar no evento. Em resposta, o órgão se posicionou contrário à solicitação, por “fugir à proposta do evento, destinado ao público evangélico cristão”.
Agora, o Ministério Público Estadual (MPE) pede que a prefeitura inclua todas as crenças na “Quinta Gospel”. De acordo com a promotora de Justiça de Direitos Humanos, Jaceguara Dantas da Silva Passos, o município não pode “contemplar tão somente a religião evangélica”.
Revista Fórum e Campo Grande News