Vencer o ódio
André Falcão*
Esse é um assunto de difícil esgotamento — certamente valeria tese de mestrado, quiçá doutorado —, mas o singelo objetivo, aqui, é de trazer à lume a estupefação pelo ódio à Presidenta à vista da absoluta falta de condições objetivas, concretas, para que assim se materializasse, bem como iluminar as alternativas, já existentes, de reduzir-se a manipulação e reformar-se a política, avançando enquanto sociedade pensante.
O fenômeno (ódio) é de tal modo irracional que nos meus devaneios fantásticos já considerei que nem na hipótese de este país, nesse curto espaço de doze anos, houvesse sido por Lula e Dilma transformado na maior potência econômica mundial, com irrisória desigualdade social — a existente seria decorrente apenas da vontade pessoal do cidadão que resolveu acomodar-se —, onde todos teriam alcançado os mais altos patamares em educação, nem assim, nem assim(!), Lula deixaria de ser o “milionário da Forbes”, seu filho o “dono da Friboi”, ou Dilma “a terrível” presidente que quer transformar o país numa ditadura, quiçá a “comunista” que (des)aprenderam nos iguais caminhos do preconceito e da ignorância (até acadêmica).
Não adiantaria. O preconceito e a ignorância, forjados numa história escravocrata de exploração social e econômica, até hoje enraizados em parcela da população brasileira, aliado à escancarada — desaforada, mesmo(!) — manipulação de um jornalismo-lixo praticado pelos grandes grupos midiáticos que distorce, mente, inventa fatos, além de disseminar esses mesmos preconceito e ignorância, amplificando-os e a nosso famigerado “complexo de vira-latas”, tudo isso parece tornar em vão a nutrição de qualquer expectativa de avanço dos telespectadores e leitores que lhe são vítimas e, ao mesmo tempo, alimento.
Daí a necessidade de promover-se, com urgência, não apenas a reforma política — com a instauração, no seu bojo, do financiamento público de campanha (evitando-se os ramos de corrupção permitidos e facilitados pelo que lhe é antagônico, o privado, cuja conta é cobrada depois, do país(!), eleito o candidato cuja campanha recebera os milionários “investimentos”) —, como a regulação da mídia (o que não se confunde com censura, embora digam o contrário, claro, os grandes grupos midiáticos, preocupados com a redução dos lucros inaceitáveis que auferem). Uma estimula diretamente a corrupção; a outra, diretamente o emburrecimento. Segue avançando, Brasil!
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político