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A batalha de adesivos nas eleições 2014

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O vale-tudo desencadeado entre Dilma e Marina, que foram colegas de ministério nos dois mandatos de Lula, já atingiu o humor da velha mídia, deixando Aécio à beira da estrada depois que sua candidatura se mostrou inviável

Adesivos de Fora Dilma e Fora Marina dão o tom da polarização na eleição presidencial de 2014 (Imagem: Pragmatismo Político)

Ricardo Kotschco, em seu blog

Uma disputa paralela desta campanha presidencial já começou faz algum tempo em São Paulo e chegou ao Rio nesta segunda-feira: é a guerra dos adesivos para colocar nos carros, um adereço tradicional que, neste ano, andava meio ausente na paisagem.

“Fora Dillma. E leve o PT com você” (com dois “ll” mesmo, remetendo a Collor) é um adesivo que enfeita os carrões pretos off-road dos tucanos paulistanos, que já nos acostumamos a ver na região dos Jardins e adjacências. Com Aécio alijado da disputa, servem agora a Marina Silva, em seu embate com o PT de Dilma e Lula.

A resposta dos petistas demorou a aparecer e só foi lançada no ato em defesa da Petrobras promovido no Rio, com a participação do ex-presidente Lula e líderes sindicais.

“Fora Marina. E leve o Itaú junto” dizia o adesivo fartamente distribuído durante a manifestação, que centrou críticas na candidata do PSB, como se ela fosse contra o programa do pré-sal, a principal bandeira do PT.

Para um forasteiro que está chegando agora ao Brasil, fica parecendo que a eleição para presidente da República, daqui a 19 dias, está sendo disputada entre o PT de Lula e Dilma versus o PSB de Marina e Neca Setúbal, uma das herdeiras e acionista do maior banco privado do país, coordenadora do programa de governo da candidata.

A cada dia sobe o tom dos dois lados, prenunciando temperatura máxima na reta final da campanha. No final da manhã de ontem, sem muita sutileza, o ex-presidente Lula foi direto ao ataque no palanque armado em frente ao prédio da Petrobras, no centro do Rio, após breve caminhada que saiu da Cinelândia, lembrando cenas típicas de campanhas passadas do PT:

“Se tem uma coisa que você não pode terceirizar é o cargo de presidente. Ou você assume ou não assume. Esse negócio de pedir para cada um falar um pedacinho das coisas que estão acontecendo no país não dá certo. Pode acontecer que o programa de governo possa ser feito por 500 mãos, menos as dela”.

Afiada nos contra-ataques, Marina não demorou a responder no mesmo diapasão beligerante, durante encontro à tarde, em São Paulo, em reunião com artistas, organizada pelo cineasta Fernando Meirelles:

“Uma estrutura muito poderosa está sendo utilizada para me combater. Porque chegar no interior da Bahia e ouvir `vai acabar com o Mais Médicos, vai acabar com Minha Casa Minha Vida, vai acabar com Bolsa Família´ (…). Isso é um ser humano? Só se fosse o Exterminador do Futuro”.

Incomodada com o protagonismo que ganhou nesta campanha presidencial, a banqueira e educadora Neca Setúbal queixa-se há dias, em bateria de entrevistas exclusivas programadas na grande imprensa familiar, dos ataques que vem sofrendo do PT, por sua onipresente atuação na campanha de Marina Silva.

Na verdade, Neca contribuiu para esta emergência do anonimato: como um verdadeiro papagaio de pirata, ela não saiu do lado da candidata e passou a dar entrevistas sobre as propostas econômicas do PSB, desde que Marina foi a Recife para participar das cerimonias fúnebres de Eduardo Campos e, em seguida, assumir o lugar dele na campanha.

Nada acontece de graça numa campanha eleitoral. A defesa que Neca fez da independência do Banco Central, em entrevista à “Folha”, deu o mote para a campanha do PT disparar as baterias contra Marina na propaganda eleitoral, e agora as duas se queixam que estão sendo injustamente agredidas. O adesivo distribuído no Rio é apenas um detalhe.

Percebendo o estrago causado à candidatura pelo programa de governo coordenado por Neca e Maurício Rands, já registrado pelas pesquisas, que obrigou a candidata a fazer erratas e recuos, o coordenador-geral da campanha, Walter Feldman, um tucano histórico dissidente, figura menor da política paulistana e que ganhou ares nacionais de grande formulador político após a morte de Eduardo Campos, já encomendou aos dois uma nova versão para o segundo turno.

“Agora, a orientação da Neca e do Maurício é para nós começarmos a aprofundar com os segmentos, já preparando um plus no programa de governo 2.0, após esta primeira etapa”, anunciou Feldmann, em mais um dos seus encontros com empresários.

Que segmentos são esses, ele não explicou, nem antecipou o que muda neste programa 2.0, mas é certo que os coordenadores querem explicar melhor o que queriam dizer no 1.0, em especial no capítulo sobre o petróleo, tratado só de passagem na versão original.

O vale-tudo desencadeado entre as duas candidatas, que foram colegas de ministério nos dois mandatos de Lula, já atingiu, como não poderia deixar de ser, o humor da velha mídia, cada vez mais engajada no “plano B”, deixando Aécio à beira da estrada depois que sua candidatura se mostrou inviável.

Até colunistas autoproclamados “independentes, apartidários e isentos” já estão rasgando a fantasia, ao entrar de sola na campanha pró-Marina, depois de passar os últimos meses tentando desconstruir a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, que lidera todas as últimas pesquisas sobre o primeiro turno.

Estes cavalos de pau me fizeram lembrar de um episódio hilário no intervalo do primeiro para o segundo turno, na disputa entre Collor e Lula, em 1989, na primeira eleição direta para presidente após a ditadura militar.

Ao pegar um táxi em Congonhas, voltando de uma viagem a Brasília, perguntei ao motorista em quem ele iria votar. “Olha, moço (na época, eu era mais jovem…), no primeiro turno, votei no Lula, mas agora acho que vou votar no Collor”. Como assim?, perguntei-lhe, sem entender.

“É que eu já votei no Lula, mas até agora não mudou nada na minha vida. Então, vou votar no outro pra ver se melhora”.

Deu no que deu.

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