Ao contrário do discurso vinculado pela campanha de Marina em seu guia eleitoral em que ela conta ter passado fome, não há na biografia autorizada da ex-senadora nenhuma referência sobre esse episódio
O discurso em que Marina Silva conta ter passado fome, durante um comício no Ceará, de tão emocionado virou programa eleitoral do PSB. Emocionante, mostra pausas na fala da candidata, que é interrompida pelas lágrimas. Ela conta que, em uma refeição com sua família de oito irmãos, os pais ofereceram apenas “ovo e um pouco de farinha e sal”. E deixaram de comer para dar aos filhos.
Em seguida, ela diz que uma pessoa que passa fome não acaba com o Bolsa Família. E rebate críticas da presidente Dilma, que teria insinuado tal coisa. Em um texto publicado no Diário do Centro do Mundo, o jornalista Kiko Nogueira resgata a biografia da ex-senadora de 2010, que acaba de ser relançada, e ressalta que das dez vezes que o livro cita a palavra “fome”, em nenhum momento se refere ao que ela disse no Ceará.
“Não se coloca em dúvida que Marina enfrentou enormes atribulações e é dona, sim, de uma trajetória notável. A ex-seringueira acreana adquiriu malária cinco vezes, alfabetizou-se aos 16, chegou a senadora e ministra e concorre à presidência. Uma vencedora. Mas a cartada da fome é típica de um populismo que, esperava-se, passaria longe da ‘nova política’. Quando ditou suas memórias, aquele sábado dramático, portinariano, não mereceu qualquer evocação. Hoje, talvez por insistência dos marqueteiros, a cena virou o filme”, escreve Kiko Nogueira.
Vídeo do discurso de Marina:
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