André Falcão*
Ou por outra: E se as duas últimas pesquisas estiverem corretas? ― naturalmente já abstraindo que pesquisas eleitorais retratariam o momento em que são realizadas, além dos conhecidos históricos fracassos de algumas delas, inexplicáveis e surpreendentes, responsáveis por suspeitas eternamente consolidadas no imaginário; abstraindo meu próprio ceticismo.
Mas… e se forem confirmadas?
Nessa hipótese, o cenário não é nada alvissareiro.
Primeiro, porque Marina Silva vai se eleger na qualidade de “hóspede” de um partido político, que apesar de histórico, tem inexpressiva representação no Congresso Nacional, além de integrar coligação eleitoralmente pouco significativa. Não bastasse, o partido apresenta fissuras importantes quanto à aceitação de seu nome. É sabido, além disso, que não se pode governar sem o apoio do legislativo.
Imaginar-se outra coisa é desconhecer o que a história e a ciência política ensinam, ao menos em se tratando de democracias ocidentais e de regime presidencialista.
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Segundo, porque assim o diz seu próprio programa de governo. Embora é verdade que conhecido pastor metido a fundamentalista já lhe ordenou que fosse de lá retirado texto de apoio aos homossexuais, no que foi dócil e prontamente atendido. Terceiro: porque sua história política é inconsistente. Mais:
A principal coordenadora e mentora de sua campanha integra família proprietária de um dos maiores bancos privados do país, que mais do que doar para a sua campanha, é um dos responsáveis pelo seu financiamento (o outro é uma indústria de cosméticos com conhecidos interesses diretos no governo federal). Naturalmente, quem financia quer retorno. Ou não?
E o corte nos gastos públicos?
Dá pra imaginar uma política econômica ditada pelo capital financeiro?
Dá pra imaginar o que será de nós com a volta dos Armínios Fragas da vida, com o Banco Central independente (e o governo dele refém)?
Dá pra imaginar o que ocorrerá com os salários, as políticas sociais (dezenas de programas que vêm promovendo uma verdadeira revolução social neste país, em todos os níveis e atingindo a todas as classes econômicas), o emprego, as taxas de juros, os concursos públicos, o pré-sal, a Petrobrás, e consequentemente com a saúde e a educação?
Se estas últimas, apesar dos inéditos e importantes avanços, ainda não estão como merecemos (nem poderiam), dá pra imaginar como estarão?
Ou você acha que enxugar gastos é cortar “mordomia” e cargo comissionado?
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político