Eduardo Jorge e Luciana Genro salvam debate
Em um debate promovido por uma emissora católica e com perguntas polêmicas feitas por religiosos cristãos, Luciana Genro e Eduardo Jorge tiveram coragem para falar assertivamente sobre os temas espinhosos
Jarid Arraes, Questão de Gênero
Na noite dessa terça-feira (16), o debate entre presidenciáveis da CNBB e da TV Aparecida – uma emissora católica – foi assunto central nas redes sociais. As perguntas, feitas por religiosos cristãos, muitas vezes abordaram assuntos polêmicos, como a homofobia e a legalização do aborto. Felizmente, duas pessoas na disputa presidencial possuem coragem para falar assertivamente sobre os temas: Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV).
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Uma das características mais necessárias e admiráveis de Eduardo Jorge é sua capacidade de externar um discurso inflamado, que remexe o dedo na ferida. Quando fala da legalização do aborto, ele dá voz a milhares de mulheres que morrem por causa da clandestinidade do aborto. O candidato se compromete em expor a hipocrisia da sociedade brasileira e trata o assunto como uma questão de saúde pública e direitos humanos.
Já Luciana Genro se destaca, entre muitos outros pontos, por ser a primeira candidata à presidência a utilizar a palavra “transfobia” na televisão aberta, pautando não somente as demandas políticas e de sobrevivência de pessoas homossexuais, mas mostrando que a transfobia é o tipo de discriminação e violência que mais assassina travestis e transexuais no Brasil. Sua abordagem é, portanto, revolucionária e deve servir para reflexão de toda a sociedade – incluindo o movimento LGBT, que muitas vezes invisibiliza as demandas trans.
Infelizmente, ambos os candidatos enfrentam dificuldades na hora de conquistar votos, pois muitos eleitores ainda acreditam que o voto por convicção – e não por conveniência – é um desperdício, mesmo no primeiro turno. Se menos pessoas pensassem assim, talvez houvesse mais chances de ver candidatos como Eduardo Jorge e Luciana Genro no segundo turno, levantando perspectivas primordiais para o avanço do nosso país e a dignidade de toda a população. Ainda há candidatos como Mauro Iasi (PCB), que também defende pautas feministas e LGBT, mas que nem sequer consegue espaço nos debates em rede nacional, o que denuncia a monopolização de certos partidos e políticos.
Apesar disso, a presença desses candidatos causa um incômodo imprescindível nos demais presidenciáveis, que se veem obrigados a oferecer opiniões sobre os assuntos mais ingratos do momento. Sem essa pressão por avanços e transformações efetivas na nossa cultura, se torna muito mais difícil levar argumentos a favor da legalização do aborto, por exemplo, para as pessoas que não são engajadas com essas questões políticas. Cada vez que Eduardo Jorge e Luciana Genro repetem que mulheres morrem na clandestinidade e que o aborto precisa ser legalizado, ou cada vez que defendem a laicidade do Estado, mais pessoas revisam suas opiniões e consideram outras alternativas. Nossa torcida é para que a presidenta ou presidente eleito também seja capaz de mudar de opinião e concretizar essas mudanças no país.