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Eleições 2014: o discurso da superficialidade

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A superficialidade impera na campanha eleitoral de 2014 com o não aprofundamento proposital dos temas de interesse da sociedade. O vazio do discurso conduz os eleitores a uma batalha fictícia entre os candidatos

No último domingo, os presidenciáveis participaram do debate da TV Record (Divulgação, Fotos Públicas)

Mailson Ramos*

A campanha eleitoral, através do discurso dos candidatos, adquiriu uma característica superficial ou de não aprofundamento proposital dos temas de interesse para a sociedade. Esta prática tem recebido a adesão de todos os partidos, candidatos, gestores de campanha e até mesmo tem encantado a mídia. Em contrapartida, o postulante que deseja aprofundar suas discussões sobre as atuais demandas corre o risco de ser taxado de pedante ou mesmo não atrair a atenção das pessoas.

O vazio do discurso conduz os eleitores a uma batalha fictícia entre os candidatos. A intenção é clara: o embate é tão persuasivo que as discussões sobre os assuntos (saúde, segurança, educação) são marginalizados à importância da guerra entre os partidos ou candidatos. A necessidade de disputa cria uma cortina de fumaça onde os candidatos não são obrigados a apresentar ideias, mas duelar com os olhos voltados ao passado.

Não aprofundar as discussões eleitorais consiste, sobretudo, em desacreditar da capacidade analítica do brasileiro. É achar que se perde tempo quando na verdade o que interessa para o público é a baixaria, o embate, a disputa sem regras. É prometer que é possível acabar com a violência nas ruas das grandes cidades aumentando o número de policiais e não de políticas públicas para crianças e jovens carentes, combate efetivo ao tráfico de drogas. Aliás, as drogas e o tráfico são poucas vezes citados nos discursos dos candidatos ao congresso e até mesmo pelos candidatos ao poder executivo.

Nota-se que os assuntos de maior urgência são esquecidos na campanha e citados, por
escrito, nos documentos de programa de governo. Entre acusações que invadem a propaganda do começo ao fim os candidatos não querem outra coisa senão disputar.

Na televisão é muito mais evidente o comportamento dos candidatos. Superficiais e efêmeros eles economizam tempo (que é raro) e palavras; nos debates, em vez de transmitirem suas propostas, suas ideias, os candidatos são levados ao confronto frontal para agradar o público: o anseio ali se dá por conta das perguntas capciosas, menos desconcertantes do que as réplicas e as tréplicas.

Quando os jornais analisam o vencedor do debate, não escolhem o melhor expositor de ideias, mas o que cedeu aos apelos da disputa. O conteúdo das sabatinas e das entrevistas livres realizadas especialmente pelos grandes jornais do país é colocado à margem das noticias polêmicas do dia. Não ganha espaço. Quando ganha, é pela citação de uma frase ou uma expressão mais incisiva.

Enquanto o eleitor se desgasta defendendo o seu candidato dos ataques adversários; enquanto o outro entra no jogo da disputa desinteressado das necessidades sociais históricas do Brasil, aquilo que realmente interessa permanece no campo das superfluidades.

A prática, nestas eleições, tem alcançado altos níveis de adesão. E raros são os candidatos que se atrevem a debater seus projetos, esmiuçar seus programas de governo, interpelar os outros candidatos em busca da compreensão ou contestação dos programas alheios. Tudo parece ser tão surreal e ao mesmo tempo manipulado que as expectativas por uma eleição clara, racional e discursiva barram na costumeira realidade da política nacional. É nada mais que um desabafo que procura esclarecer as reais atribuições de um período eleitoral.

Não conceder ao eleitor a chance de discutir projetos, de debater as propostas dos candidatos e permitir a ele a ideia de apreciação da disputa vazia é estarrecedor. Não é para outra atribuição que se criou o período eleitoral.

O confronto é inevitável e absolutamente saudável, segundo a concepção ideológica de cada partido, afinal, existe um senso de concorrência pelo cargo a ser ocupado. Mas há diversas formas de se pensar como devem ser confrontadas as candidaturas.

Superficialmente ou com a profundidade dos debates e das ideias? O eleitor deve responder com o instinto democrático elevado aos seus saberes políticos, sua compreensão ideológica e, sobretudo, sua capacidade de mergulhar no ínfimo dos fatos.

*Mailson Ramos é escritor, profissional de Relações Públicas e autor do blog Opinião e Contexto. É o mais novo colunista de Pragmatismo Político e escreverá semanalmente. Contato: ramosunic@gmail.com

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