Marina Silva censura crítica a Banco Central independente ao invés de defendê-lo em seu programa eleitoral. Se há argumentos favoráveis à proposta eles precisam ser mostrados para que o leitor tire suas conclusões
Helena Stephanowitz, RBA
O procurador-geral eleitoral, Rodrigo Janot, deu parecer favorável ao pedido da candidatura de Marina Silva para censurar a propaganda eleitoral na TV de Dilma Rousseff que critica a proposta de Banco Central independente defendida pela candidata do PSB.
Na inserção (assista aqui) é mostrado um paralelo entre uma reunião de banqueiros decidindo os rumos da economia nacional de acordo com seus interesses privados, sem controle de um governo eleito pela soberania popular, e os possíveis efeitos que pode provocar na vida das famílias, como desemprego, arrocho nos salários e aposentadorias e cortes em direitos sociais.
Janot considerou não haver conteúdo sabidamente inverídico, por isso disse não caber direito de resposta ao PSB, mas pede a suspensão da peça por entender que tem aptidão de criar, artificialmente, estados mentais, emocionais ou passionais no público, desapegados de experiência real. Antes de escrever “desapegados de experiência real”, Janot deveria olhar o que dizem os trabalhadores e desempregados gregos, portugueses, espanhóis, italianos, franceses sobre a independência do Banco Central Europeu.
Lá, a população submetida ao arrocho nem culpa mais o próprio governo de seu país, pois, mesmo trocando governos nas eleições, o arrocho continua do mesmo jeito. O povo reclama de quem manda de fato na economia dos países, a “troika” (a trinca formada pelo Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional).
A peça na TV não deixa de ser também uma versão adaptada ao tema presente do poema O Analfabeto Político, de Bertolt Brecht, repaginando o trecho em que diz “Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”.
O parecer de Janot equivale presta um desserviço à consciência política do cidadão brasileiro, ao direito de conhecer propostas, causas, efeitos e consequências, inerente ao debate eleitoral politizado e aprofundado, como deve ser. Trata o eleitor com se fosse uma criança manipulável emocionalmente, como se fosse o próprio “analfabeto político” do poema.
Se o programa de Marina Silva tem argumentos diferentes em defesa de sua proposta de Banco Central independente, que os exponha e deixe o eleitor tirar suas próprias conclusões e fazer suas escolhas. Pior seria o cidadão brasileiro só descobrir as consequências depois que sentir na própria pele o estrago feito.
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