Revoluções Silenciosas
André Falcão*
Como muitos de vocês que me honram (de verdade!) com sua leitura, também nunca precisei de governo nenhum. Pra nada. Pelo menos não diretamente, se é que me entendem.
Assim, pude desfrutar de casa, comida e roupa lavada. Cama com lençóis limpos, farda de colégio e material escolar de primeira mão, dinheiro pra merenda, escola particular (para onde meu pai podia me levar de carro, todos os dias), remédios, mesada para o cinema e o lanche com a namorada.
Mais tarde, ficando taludo, faculdade pública e gratuita em outro estado (graças aos meus esforços e à boa base oferecida por ensino médio em colégio privado), estadia também financiada por meus pais.
Formei-me advogado, passei nos concursos públicos que quis, tornei-me adulto e pai. Tive, portanto, todas as condições econômico-financeiras para construir um futuro digno e decente, conferidas por meus pais. O mais só dependia de mim.
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Nunca aceitei, porém, a desigualdade social alarmante que testemunhava. Não me conformava que a empregada doméstica da nossa casa, por exemplo, não pudesse almejar um futuro, nem a seus filhos, salvo se transformando numa guerreira quase mitológica; o suprassumo da exceção, pois. Aí, se feliz em alguma conquista, a maioria das pessoas da minha classe sócio-econômica a aplaudiria e exclamaria: Oh! Tá vendo? Quando se quer consegue! Basta ir à luta, deixar a preguiça de lado. Esse povo é muito preguiçoso!
Felizmente há cerca de apenas 12 anos essa realidade cruel, impiedosa, injusta e anti-Cristã(!) começou a mudar. Já hoje não é raro você se deparar com filhos da velha miséria formando-se doutor. Não é incomum, numa família humilde, não raro antes beirando ou banhando-se na miserabilidade, encontrar-se alguém fazendo um curso técnico graças ao PRONATEC, outro cursando uma faculdade com o PROUNI ou o FIES, mais outro estudando no exterior com o Ciência sem Fronteiras. Criança na escola e com comida na mesa graças ao Bolsa Família não tem preço, como não o tem ver a alegria de um participante do Minha Casa Minha Vida. É emocionante testemunhar tantas mudanças em meu país e para seu povo, principalmente os mais sofridos e até então nunca vistos com os olhos do coração.
Sim, tenho dificuldade em compreender como se pode ser contra essa verdadeira revolução pacífica. Há quem o seja. Mas no que depender de mim aquela realidade será parte definitiva de um passado; um passado para ser lembrado apenas para que nunca mais a gente deixe que volte.
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político