Professora da PUC chegou a dizer que ciclofaixas são "encomenda do diabo" e, pela cor vermelha, representam uma "propaganda comunista do PT". Já o senador Aloysio Nunes reclama que as faixas incomodam os moradores ricos de Higienópolis
Kiko Nogueira, DCM
A inauguração de ciclovias pela prefeitura paulistana despertou mais uma vez o monstro do ódio aos ciclistas. Você pode dar ao senador Aloysio Nunes o crédito pelo primeiro disparo nessa nova cruzada.
Na semana passada, Aloysio contou que foi a uma padaria e encontrou alguns cidadãos insatisfeitos. Escreveu no Twitter: “Delírio autoritário de Haddad: esparrama ciclofaixas a torto e a direito, provocando revolta nos moradores de Higienópolis”.
Uma professora de semiótica da PUC, Lucia Santaella, foi mais longe. No Facebook, alertou para o fato de que o vermelho é “uma descarada propaganda do PT”, provavelmente uma encomenda “do diabo em pessoa”.
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Lucia acha que faixas para bicicletas não têm utilidade em “ruas íngremes, impossíveis de serem pedaladas nem mesmo por campeões olímpicos”. Lembra ainda do efeito desse tom sobre nosso sistema nervoso central.
Há uma séria animosidade contra ciclistas. De acordo com a CET, morre um por semana em São Paulo.
Nosso diretor de TI Tiago Mendes Tadeu já levou algumas fechadas. Numa dessas ocasiões, resolveu fazer um boletim de ocorrência. Passou uma tarde inteira na delegacia sendo completamente ignorado. Quando quando alguém se recordava de sua presença no barquinho de cimento, era ridicularizado.
Os talibikers, como eram chamados, voltaram à moda. Graças a gente como Aloysio e a professora Lucia, a coisa deve piorar.
Para poupar o esforço de encontrar motivos para a guerra, o site Courier Mail elaborou uma lista de razões para odiá-los:
Ciclistas andam em bandos
Eles foram descritos como “baratas da estrada”, uma ameaça em duas rodas à civilização. Andam em grandes grupos e atravancam as ruas, atrasando os motoristas que respeitam a lei em seu trajeto diário.
Ciclistas não obedecem as regras
As pessoas em bicicletas não respeitam farois vermelhos, ultrapassam em momentos inapropriados, não dão sinal e geralmente ignoram a maior parte do Código de Trânsito. Ao contrário dos motoristas.
Ciclistas são muitos rápidos
Não há nada pior do que rastejar 10 quilômetros por hora no trânsito e ser ultrapassado por eles. Nada.
Ciclistas usam roupas ridículas
É o problema da lycra. Eles não estão disputando o Tour de France, são velhos e gordos. Podemos ver seu cofrinho.
Ciclistas são muito silenciosos
Basta perguntar a qualquer pedestre com um iPhone colado em seus ouvidos que já tenha sido atingido por um.
Ciclistas são presunçosos
Ninguém se importa se estão salvando o planeta, não contribuindo para as emissões de gases de efeito estufa. Pelo menos os motoristas não se molham quando chove.
Ciclistas são livres
Nós invejamos sua liberdade. Nós invejamos o fato de que enquanto os nossos músculos definham por não ser utilizados quando estamos sentados completamente imóveis em um engarrafamento fedorento durante várias horas do dia, os ciclistas passam do nosso lado indo em direção sabe-se lá de onde.
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