Se fosse possível resumir eleição em um conceito essencial, este seria: o momento histórico em que o indivíduo é impelido a conectar politicamente o seu eu ao coletivo
Hânder Leal*
Para o eleitor, muitos dizem que participam só por obrigação. A raridade com que o indivíduo tem a oportunidade de exercer o direito de cidadão e escrever ainda que apenas uma vírgula ou um ponto de reticências da história de seu país parece se esvanecer no cumprimento de uma obrigação repetida. Mesmo assim, a maioria participa, e quase todos, se inquiridos, emitem uma opinião a respeito da economia, da política, da educação do país.
O taxista que se sente injustiçado devido à elevada cobrança de impostos; a dona de casa ensandecida com a alta dos preços; a enfermeira que acha que a saúde vai mal. Quando a campanha eleitoral termina, metade da população está satisfeita, a outra continuará reclamando dos mesmos problemas. Pelo menos por um tempo.
A política, como processo, se faz presente para o cidadão apenas de tempos em tempos. Tempos raros que, quando chegados, são e devem ser devidamente aproveitados.
Assim o foram no último 26 de outubro de 2014 neste Brasil, outrora colônia, outrora terra de ninguém, mas que agora é qualitativamente a maior democracia do mundo. Jargões, memes, festa? manipulações, ódio, ira? compromisso, esperança, demagogia, promessas? partidos, acusações, debates, bandeiras? tudo isso não é o mais importante. Isso são apenas os ritos.
Se pudesse resumir eleição em um conceito essencial, este seria: o momento histórico em que o indivíduo é impelido a conectar politicamente o seu eu ao coletivo. É o momento da participação. O ápice da democracia. Pena que seja tão raro no regime democrático representativo. Raro, por isso, deve ser apropriado, aperfeiçoado e, sobretudo, valorizado.
Se deixarmos de lado as circunstâncias eleitorais e pensarmos na probabilidade histórica remota de que, por meio da interação de uma coletividade de mais de cem milhões de indivíduos, resulte, pela quarta vez consecutiva, uma escolha política em prol do progresso material e da igualdade de condições de uma ampla maioria dessa coletividade, veremos que esses são sinais de novos tempos. Tempos de maturação de um projeto de país no Brasil.
Não há evidência mais inequívoca disso do que o fato de que, para a surpresa de muitos, o Sudeste assistiu boquiaberto ao Nordeste, outrora periferia e hoje fronteira de desenvolvimento nacional, definir os rumos políticos do país.
Pelo menos pelos próximos quatro anos. Ganha a democracia. Ganha o povo brasileiro.
*Hânder Leal é mestrando em ciência política da UFRGS e colaborador de Pragmatismo Político. (handercl@gmail.com)
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