A comunidade internacional, o neoliberalismo e a África. A culpa é de quem?
Lucien de Campos*, Pragmatismo Político
A comunidade internacional nunca procurou saber o real problema do continente africano. As potências – ditas democráticas – nunca se interessaram de fato pelos conflitos que lá sempre existiram. É nítido este desinteresse perante os países mais pobres, pois eles são as vítimas do sistema.
Na realidade, como também ocorre no Oriente Médio, a indústria armamentista sempre financiou as guerras na África. Logicamente, esta é a indústria que mais mata e gera a desigualdade social no mundo. Kennedy tentou aboli-la, atacou justamente no “calcanhar de Aquiles” do capitalismo, e nós já sabemos qual foi seu fim. Depois disso, nunca mais nenhum presidente americano, e nem mesmo candidatos em época eleitoral trataram sobre o assunto.
O neoliberalismo privilegia empresas e Estados hegemônicos, pois ao explorar os países pobres, sugam-se seus recursos naturais e só favorece a uma minoria elitista da população dos países explorados, concentrando ainda mais o capital. Desta maneira, tudo me leva a concordar com as palavras de Joseph Stiglitz (Prêmio Nobel da Economia 2001), nas quais afirmam que a globalização comercial e o capitalismo desenfreado são alguns dos fatores que contribuem para a desigualdade no mundo, principalmente em países frágeis a este sistema.
Portanto, o que mais me incomoda é que a globalização gera um encontro de interesses e não de culturas entre os Estados.
Em relação ao Ebola, desde 1976 esta doença apresenta consideráveis taxas de mortalidade. Mas enquanto Serra Leoa servia os diamantes para a Europa, não se falava muito nela. Tomara que esteja equivocado, mas o Ebola ainda será um grande problema, podendo aumentar os níveis de conflitos entre os países. Os aeroportos europeus já estão selecionando passageiros oriundos de voos africanos para realizarem exames. Isto causa pânico na população e um olhar “atravessado” para com os africanos. E a culpa é colocada em quem? Na África, é claro.
Diante disso, de repente pode aparecer Estados Unidos, Canada, Alemanha e China com os protótipos de uma vacina. Como assim? Vacina não requer anos para ser feita? Todavia, esquecemo-nos de outra indústria muito poderosa, a indústria farmacêutica. É através dela que os países hegemônicos estão a serviço da desgraça alheia para marcar posição no cenário internacional. E se isso ocorrer, muita gente vai se perguntar: mas porque não divulgaram esta vacina antes? A reflexão é simples, os conflitos civis na África não atravessam os oceanos, mas as doenças sim.
Finalmente, pode-se concluir que tudo isto é uma grande hipocrisia internacional. Infelizmente, hoje a África é mais conhecida como o berço das doenças, fome e pobreza do que o berço da humanidade. O mundo corre o risco de retroceder!
*Lucien de Campos é mestrando em Diplomacia e Relações Internacionais pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias – Lisboa e colaborador em Pragmatismo Político