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A eleita e a ressaca pós eleição da ala oposicionista

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Na eleição 2014, presenciamos notícias com informações explícitas ou implícitas (aquelas dirigidas diretamente ao subconsciente), onde cada veículo deixou clara sua posição governista ou oposicionista.

O jornalista Merval Pereira, da Globo News, foi um dos que lamentaram a vitória de Dilma (Reprodução)

Nádia Amaral*, Pragmatismo Político

Após a vitória para Presidenta Dilma Rousseff, aguardada nervosamente pelos brasileiros, em especial os cardiopatas, a oposição apresenta os primeiros traços de sua ressaca. É possível constatar claramente os atos de
“birra” dos revoltosos e a incitação pela violência.

Como toda eleição presidencial, em qualquer país do mundo, os brasileiros puderam presenciar um agressivo embate relativo às questões de cunho econômico, político, social e psicológico. Algumas das questões foram programadas pelos candidatos e outras criadas e administradas pelos psicólogos midiáticos.

Na eleição 2014, presenciamos notícias com informações explícitas ou implícitas (aquelas dirigidas diretamente ao subconsciente), onde cada veículo deixou clara sua posição governista ou oposicionista. Não esqueçamos que enquanto veículo midiático, as empresas precisam de recursos e enquanto homo sapiens, os jornalistas estão sob influência de suas próprias convicções.

Em contraposição à questão da “liberdade” de imprensa, vimos jornalistas impondo suas próprias convicções pessoais sobre cada candidato, alguns com classe outros nem tanto.

Quem assistiu o canal GloboNews, no domingo de eleição, pôde presenciar um clima estranho, para dizer o mínimo, entre a equipe formada por Gerson  Camarotti, Cristiana Lôbo, Dony De Nuccio, Merval Pereira e sua coordenadora, Renata Lo Prete.

Merval estava visivelmente vermelho (embora provavelmente desejasse estar azul), chocado e decepcionado com a reeleição. Renata, não pôde conter-se em chamá-lo à realidade traçando defesa à candidata e a inequívoca verdade, apertada ou não, o povo escolheu. Já Cristiana Lôbo, desconfortável com a agressividade do debate dos dois colegas, não levantava a cabeça e seus olhos podiam ser vistos apenas por cima dos óculos, enquanto Merval afundava seus dedos no aparelho celular.

Contudo, ultrapassada a overdose de embates políticos, e mediante a impossibilidade de alegar-se ilegitimidade no processo eleitoral, batem à porta os efeitos devastadores da abstinência para os oposicionistas.

Na terça-feira, dia 28/10, com o país já sonolento para notícias políticas, a Câmara dos Deputados “decidiu” pela conveniência de julgar a sustação do Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS.

O referido Decreto objetiva organizar e dar transparência quanto às esferas e respectivas instâncias de participação popular, só isso. O texto não cria cargos, não acarreta majoração orçamentária, não cria conselhos, não transfere competências de um poder a outro ou cria quaisquer pessoas jurídicas.

Os deputados, bem como os membros da sociedade civil que efetivamente leram o texto do Decreto, dados os argumentos acredito que uma parcela não leu, podem verificar que a intenção do texto é dar efetividade à participação popular prevista constitucionalmente, por meio de instrumentos de controle social.

Entre outros argumentos fornecidos, durante um estado aparentemente alucinógeno, os oposicionistas declararam que o Decreto pretendia golpear o Estado Democrático de Direito; que o Executivo queria usurpar a competência do legislativo; que se tratava de um golpe de natureza “bolivarianista” ou “bolchevique”.

Ora, em que pesem as fragilidades e o notório desconhecimento histórico das analogias empregadas pela oposição, o telespectador pôde testemunhar alguns governistas e aliados, pedirem inutilmente que a matéria fosse melhor discutida; que fosse travado diálogo mais amplo com os representantes da sociedade civil frisando que a própria OAB não teria verificado qualquer inconstitucionalidade no texto.

Houve gritos e discussões acaloradas, o presidente da casa debilmente tentava agilizar o processo e nervosamente “cortava” seus colegas chamando atenção para o tempo regimental, coincidentemente todos os interrompidos eram governistas ou aliados.

Interessante constatar a fragilidade dos argumentos apresentados, afinal, para o bem e para o mal, o regime democrático não exige qualquer sapiência ou formação acadêmica, seja histórica, política ou jurídica.

Ocorre que, sob nenhuma ótica o texto atacado pode ser interpretado como usurpador de competência. Os Conselhos permanentes de políticas públicas bem como os setores organizados da sociedade civil já estão lá, já existem e inclusive alguns são antiquíssimos, e pasmem! Tais Conselhos não são controlados pelo governo!

É vexatório e cobre-nos com uma sensação de “vergonha alheia”, constatar a instrumentalização da “birra política”, nada infantil, pela Câmara dos Deputados.

Todo o alarde deveu-se à previsão, trazida pelo Decreto, de que os Órgãos da Administração passem a “considerar” as reivindicações da sociedade civil quando da formulação, execução e monitoramento de políticas públicas.

Ora, não foi exatamente isso que a sociedade civil exigiu nas passeatas e manifestações dos últimos meses? Ter sua voz ouvida, ter sua opinião considerada quando da análise de suas reais necessidades e de modo mais efetivo.

Notoriamente, é razoável concluir que o “golpe de estado” alardeado pela ala oposicionista, contraditoriamente, será dado por aqueles que intencionam restringir ou cercear o direito de participação social nos temas de seu interesse.

Ora, sejam movidos pela ambição por mais controle político, seja por mero exercício de seu jus esperneandi contra vitória da Presidenta, é necessário que a oposição apresente argumentos mais sólidos e com o mínimo de pesquisa histórica, de modo à evitar às “gafes” desse gênero.

Quanto aos 402 parlamentares “presentes” na noite de terça (28/10), em especial aqueles que estabeleceram analogia do Decreto da Presidenta com as Revoluções de Bolívar e Lênin, solicito atuação com bom senso e preservem a boa imagem intelectual, ainda que fictícia, da Câmara dos Deputados.

Ainda que coubesse a analogia realizada, não seria proveitoso ou sequer pertinente utilizá-la, uma vez que os parâmetros sócio-políticos nem de longe tem aplicabilidade hoje.

Enquanto isso, nós sociedade, devemos escolher nossos jornalistas, digo, nossas posições, e ficarmos atentos às notícias. Afinal, a verdade e a mentira dependem da construção e da psicologia midiática agregada a um mesmo fato.

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