Antipetismo do cineasta brasileiro Fernando Meirelles leva sócio a desfazer parceria histórica. César Charlone afirma que o que mais assusta é esse "ódio contra Dilma e eleitores do PT, algo que não se viu no Brasil nem na ditadura militar"
Eles fizeram história ao serem indicados nas categorias principais do Oscar por ´Cidade de Deus` (2002), filme brasileiro que disputou quatro estatuetas em 2004. Enquanto Fernando Meirelles concorreu como diretor, César Charlone foi indicado pela fotografia do longa.
Dez anos depois, o cineasta brasileiro e o fotógrafo uruguaio radicado no Brasil decidiram seguir caminhos profissionais diferentes. Desde março, Charlone, que também é diretor, deixou a 02, produtora de Meirelles. Ele definiu a saída como ´um divórcio ideológico amigável`.
As diferenças ficaram evidentes nestas eleições. Enquanto Meirelles se engajou na campanha de Marina Silva e se coloca como anti-PT, Charlone defende a reeleição de Dilma Rousseff.
Charlone diz que o que mais incomoda e chama a atenção é “Esse ódio contra o PT, uma coisa que eu nunca tinha visto no Brasil”. É pior do que no tempo da ditadura. A turma que me rodeava não gostava dos militares. Mas não era essa coisa de ‘Dilma nojenta’, esse ódio contra o PT.” Ele afirma ainda que um dos incômodos que tinha na O2 era o de achar que Meirelles ajudava a alimentar o “ódio reinante” ao postar mensagens na rede interna da produtora, lida “por jovens que o respeitam”, com boatos não confirmados sobre o ex-presidente Lula.
As diferenças entre os dois surgiram muito antes do período eleitoral. Um dos pontos: o Bolsa Família. “Eu contei para o Fernando que estou pesquisando para fazer alguma coisa sobre o resultado do programa. E ele começou a meio que me encorajar para mostrar o Bolsa Família como um recinto, um albergue de parasitas. Essa visão mais neoliberal, não sei.”
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Tive a felicidade de ir agora ao Nordeste. É um outro país”, diz o uruguaio, que vive há mais de quatro décadas no Brasil. “Falei com um taxista orgulhoso de ver os filhos estudando e dessa coisa bonita de inserção social que vivemos.” Para ele, discussões sobre o Bolsa Família desaguam em “ódio de classe, insultos, uma coisa lamentavelmente muito mal informada e com pouca referência”.
Charlone teme o acirramento de posições. ´O que me incomoda é esse ódio contra o PT. Uma coisa que nunca tinha visto no Brasil, nem na ditadura. Xingar a Dilma de nojenta. É um ódio de classe que surgiu das sombras.”
informações da coluna de Mônica Bérgamo, Folha de S.Paulo
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