Em ato pró-Aécio, Lobão, Coronel Telhada e alguns globais falam em medo de 'golpe comunista' no Brasil. Grupo cogita votar no “partido do Satanás” contra Dilma ou “fugir para Miami” caso ela seja reeleita
Era para ser uma manifestação cultural de artistas e intelectuais em favor do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Mas foi o discurso do medo que deu o tom no evento com o cantor Lobão e alguns artistas da Rede Globo, nesta segunda-feira 13, em São Paulo. Para uma plateia de aproximadamente 100 pessoas, o grupo defendeu a ideia de que está em curso uma perseguição por parte do governo contra adversários, uma nova ditadura à espreita, risco de morte, ameaça de golpe comunista e até uma atmosfera stalinista no Brasil. Aterrorizados com esses fantasmas, os convidados falaram em votar, inclusive, no “partido do Satanás” contra a presidenta e candidata PT à reeleição, Dilma Rousseff. Também foi defendido “se mudar para Miami”, nos Estados Unidos.
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O ato aconteceu no Teatro Frei Caneca, no shopping de mesmo nome, na região central de São Paulo. Dos 600 lugares do teatro, pouco mais de 100 estavam ocupados. Houve distribuição de material de campanha e estiveram presentes alguns membros do PSDB, como os deputados recém-eleitos Floriano Pesaro e Coronel Telhada, além do vereador Andrea Matarazzo — Aécio e seu vice, Aloysio Nunes, não participaram. Também não apareceram outros convidados, como Denise Fraga, Regina Duarte, Irene Ravache e Lima Duarte. Representaram a classe artística Fulvio Stefanini, Lucia Verissimo e Odilon Wagner. Além de Lobão, o autor dos ataques mais incisivos ao PT e o governo Dilma feitos no encontro. Telhada, que foi comandante da Rota e elegeu-se deputado estadual com uma plataforma voltada para o aumento da repressão policial, justificou sua presença em um ato de “artistas e intelectuais” afirmando que “a PM também tem fanfarra”.
“Hoje em dia a gente tem uma atmosfera totalmente stalinista no Brasil. Os professores do Estado são todos comunistas”, afirmou o cantor assim que chegou ao evento, em referência ao famigerado líder da União Soviética. Para Lobão, o governo prepara um golpe comunista. “Você não vê o que é a Venezuela, o que está acontecendo na Colômbia, o que está acontecendo na Bolívia, no Equador? A Lei 8.243 institui os sovietes no Brasil”, complementou ao citar o decreto que instituiu o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), que aumenta a participação social nas decisões do Executivo.
Ainda na entrada do evento, em um amplo salão no 7º andar do shopping, reservado somente para o evento do PSDB, Lobão disse que corre risco de morte. “Estou na lista negra do PT, estou ameaçado de morte. Se a coisa continuar nessa progressão sistemática, eu forçosamente tenho que sair do Brasil”, disse em tom alarmante antes de distribuir abraços, atender sorridente os militantes e tirar fotos com todos os desconhecidos que pediam.
Depois de se encaminharem para o teatro para o início do ato, discursaram rapidamente Pesaro e Matarazzo, diante de um público modesto e sob uma enorme bandeira do Brasil. Os dois alegaram compromissos para deixar o ato logo em seguida. Telhada fez o mesmo. Foi então que o ator Fulvio Stefanini assumiu o microfone: “O povo brasileiro está descrente. Todos os dias eu vejo gente querendo mudar para Miami [nos Estados Unidos]. É impressionante. Acho que nós deveríamos ficar aqui e dar as passagens para o Lula e para a Dilma. Eles vão, a gente fica”, disse. Antes que pudesse continuar, recebeu uma sugestão d destino para o ex-presidente de vindas de senhoras de idade da terceira fila: “Cuba!”, gritaram. O ator concordou com a sugestão.
Na sequência, Lucia Verissimo foi convidada a falar. Assim como os demais, disse que se sente perseguida, mas não especificou se pelos colegas de profissão, por militantes de outros partidos ou se pelo governo. “Antes eles usavam verde oliva e falavam que iam te matar. Agora não”, disse ao comparar a ditadura civil-militar com o governo Dilma. Elogiou, então, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por quem diz ser “enlouquecida”. E complementou: “chamo ele de meu imperador”.
Pouco depois, porém, Veríssimo foi modesta sobre suas análises. “Eu não entendo muito de política”. “Se eu contar para vocês tudo o que eu já passei por ser contra (o PT). Já me disseram: ‘se você votar no Aécio, ele vai privatizar até o seu c…’ E eu respondi: ‘mas ele sempre foi privado’”, acrescentou a atriz ao arrancar risos da plateia.
O último a falar foi o empresário e advogado Sérgio Dantino, que agencia carreiras de famosos, e resumiu o espírito dos presentes: “Se tivesse no segundo turno um partido do Satanás e o PT, eu votava no partido do Satanás”.
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