Médica diz que ofensas contra nordestinos são “apenas desabafos”
Administradora do grupo “dignidade médica” – que provocou polêmica ao defender “castração química de nordestinos” – afirma ainda que não se incomoda em fazer campanha por Aécio e contra “Bandilma”: “Consultório é ambiente livre. Querem controlar o que digo aos meus pacientes?”
Uma reportagem publicada pelo Portal IG na última terça-feira (7) denunciou o nível da barbárie que tomou conta da eleição presidencial de 2014. A matéria registrou mensagens perturbadoras e de mais puro ódio contra nordestinos e/ou pobres eleitores de Dilma publicadas na comunidade “Dignidade Médica” – grupo fechado do Facebook com quase 100 mil integrantes, entre médicos e estudantes de medicina. Nesta quinta-feira (9) o portal conseguiu entrar em contato com dois administradores da comunidade. Uma delas, Patricia Sicchar, chegou a afirmar que as mensagens odiosas contra nordestinos não passam de “desabafo”. Leia a matéria a seguir:
Carolina Garcia, Portal IG
Uma das administradoras da comunidade “Dignidade Médica”, revelada pelo iG nesta terça-feira (7) por pregar holocausto contra nordestinos, afirmou à reportagem que o grupo com quase 100 mil usuários é um espaço reservado aos médicos para “desabafos”. Patricia Sicchar, que se declara médica da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus em perfil da rede social, diz que houve uma interpretação errada para o termo “holocausto” – que nada teria de violência física, mas indicaria uma mudança de postura política. “Holocausto é uma revolução do agir. Nada do que vocês [jornalistas] entendem.”
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Questionada sobre o conteúdo da página e os ataques diretos contra a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, Patricia interrompe: “Não somos contra a Dilma, somos contra a Bandilma”. Para a médica, tudo que pode soar como grosseria ou ofensas preconceituosas são “apenas desabafos”. “Ali se formou um grupo de consciência política que surgiu pelos piores meios”, explica ela, atribuindo ao atual governo federal todas as frustrações da classe médica.
Além do forte conteúdo contra nordestinos, recepcionistas, enfermeiros e eleitores do PT, muitos usuários, que se declaram profissionais da medicina, confessaram fazer campanha pelo candidato Aécio Neves (PSDB) nos próprios consultórios – públicos ou privados. “Consultório é um ambiente livre. Vocês [a imprensa] querem controlar o que digo aos meus pacientes também?”, rebate Patricia. “Nosso papel é informar que o paciente não tem remédio por causa do governo e que ele não vai operar pelo SUS por causa do governo.”
Após a publicação do conteúdo da página no iG, os administradores trocaram a foto de capa da comunidade, que estampava “Fora Dilma e leve o PT junto”, pela imagem com um estetoscópio com a frase “Dignidade Médica”. Além disso, ao menos 500 usuários deixaram o grupo. Um outro médico administrador, que pediu para não ser identificado, disse que a mudança na foto foi necessária para evitar novas invasões de perfis fakes, “criados provavelmente para desmoralizar o grupo”. “Queremos evitar polêmica e invasões. Nosso grupo não faz propaganda, é um grupo para discussão entre médicos”, defende.
Perguntado se há pluralidade de opiniões dentro do grupo, como a presença de médicos pró-PT, por exemplo, o segundo administrador afirma que eles poderiam se manifestar dentro da comunidade, “desde que seguindo as regras”. “Apesar de não conhecer nenhum médico pró-PT ou Dilmista”, garante, ressaltando que caso houvesse os debates poderiam ser construtivos.
Para participar, os administradores exigem uma comprovação da formação médica e impõem dez “regras básicas”. Entre os mandamentos do DM, estão proibidos a propaganda pessoal, de clínicas ou de serviços, o desrespeito entre colegas e o respeito ao foco principal do grupo. Segundo a regra número seis, “o foco principal não é discussões cientificas nem sobre Ciência Médica, mas sim a realidade da nossa causa atual, a urgente necessidade de resgatarmos nosso valor profissional, a remuneração digna, o respeito com o médico, melhores condições de trabalho e a união da classe”.