Presidente da Sabesp se calou por "ordem superior"
Escândalo na Sabesp: vaza áudio em que diretores admitem estelionato eleitoral. Gravação mostra que presidente da estatal sabia da necessidade de avisar população sobre economia de água mas foi obrigada a ficar calada
Uma gravação de áudio, feita em reunião que contava com a presidente da Sabesp, Dilma Pena, mostra que uma “orientação superior” barrou a estatal de alertar a população de São Paulo sobre a gravidade da crise hídrica e a necessidade de se economizar água no Estado. A conversa teria sido gravada neste ano em um encontro da diretoria da Sabesp, do qual participava também o diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato. O estado de São Paulo passa por uma crise de abastecimento que assola cidades do interior e regiões da capital paulista.
No áudio, divulgado pela Revista Fórum (e depois pelo jornal Folha de S.Paulo), é possível entender que Dilma Pena discorda da “orientação de superiores”, mas diz que os diretores têm de “seguir” a ordem. “A gente tem que seguir orientação. A orientação não tem sido essa, mas é um erro. Tenho consciência absoluta e falo para pessoas com quem converso sobre esse tema, mesmo meus superiores, acho um erro essa administração da comunicação dos funcionários da Sabesp, que são responsáveis por manter o abastecimento, com os clientes”, afirma.
Na sequência, a própria presidente da estatal afirma que a empresa deveria estar mais na mídia para avisar, o tempo todo, de que é preciso economizar água. “A Sabesp tem estado muito pouco na mídia, acho que é um erro. Nós tínhamos que estar na mídia, com os superintendes locais, nas rádios comunitárias, Paulo [Massato] falando, eu falando, o Marcel falando, todos falando, com um tema repetido, um monopólio: ‘Cidadão, economize água’.”
Em seguida, o diretor metropolitano diz de forma enfática que vai acabar a água no Estado e que os moradores deveriam ir para outras regiões se pudessem. “Essa é uma agonia, uma preocupação. Alguém brincou aqui, mas é uma brincadeira séria. Vamos dar férias [inaudível]. Saiam de São Paulo, porque aqui não tem água, não vai ter água para banho, pra limpeza da casa, quem puder compra garrafa, água mineral. Quem não puder, vai tomar banho na casa da mãe lá em Santos, Ubatuba, Águas de São Pedro, sei lá, aqui não vai ter”, conclui Massato.
À Folha de S.Paulo, a Sabesp admitiu que, na ocasião, a diretoria discutia com o conselho de administração da companhia a estratégia de comunicação que adotaria frente a crise. O governo do Estado ainda não se pronunciou sobre a denúncia.