Não há novidade na capa de Veja. Já se sabia que a revista iria tentar algo assim, com doleiro ou sem doleiro, com denúncia ou sem denúncia, algo baseado na presunção de que o inimigo é sempre culpado, com ou sem provas
Flávio Aguiar, RBA
Ora, ora: no fundo não há novidade na capa de Veja para este fim de semana eleitoral, acusando a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula de “já saberem de tudo”, com base em denúncias sem provas de um criminoso.
A gente já sabia que Veja iria tentar algo assim, com doleiro ou sem doleiro, com denúncia ou sem denúncia, algo baseado na presunção de que o inimigo é sempre culpado, com ou sem provas, com credibilidade das denúncias ou sem etc.
Travou-se intensa conspirata jornalística durante esta semana para tirar o PSDB do foco das denúncias do doleiro e concentrar todo o fogo sempre no PT e agora na presidenta Dilma e, inevitavelmente, em Lula.
Neste fim de semana, a direita brasileira e seus arautos estão dormindo com um pesadelo, que pode ser chamado de 12 + 12. São 12 anos em que seu apetite pelo Planalto ficou à míngua. Para o imaginário da direita, a possibilidade de uma vitória da presidenta Dilma Rousseff no domingo representa mais doze anos de seca, pois para ela (a direita) isto significaria a inevitável volta do “intragável” Lula em 2018 e sua reeleição em 2022.
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É verdade que falta ainda combinar com Lula, que declarou que, se depender dele, não será candidato. Mas para este tipo de direita isto não conta. Ela não aceita ser contrariada, nem mesmo em suas fantasias negativas.
E Veja hoje, além de ser um poço de mau jornalismo, é a vanguarda do jornalismo marrom no Brasil. Uma curiosidade: a origem mais aceita para a expressão “imprensa marrom” no Brasil é de que se trata de uma adaptação da expressão yellow press, termo corrente para a imprensa sensacionalista e até chantagista nos Estados Unidos. “Amarela”, que seria a tradução literal de “yellow”, não pegou. Dizem alguns porque seria uma cor alegre, identificada com a bandeira nacional, com a cor da camiseta da seleção etc. Já marrom seria uma cor que lembra excremento. Há outras versões para a expressão, mas esta é a mais aceita. E Veja faz jus a ela.
A gente já sabia, portanto, que a revista semanal cometeria algo deste tipo. Não surpreende.
Veja também é conhecida por grandes “barrigas” – jargão para erros grosseiros de jornalismo. Como aquele de ter saído saudando a queda do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, quando este já estava de volta ao Palácio Presidencial de Miraflores, reconduzido ao poder por um contragolpe fulminante e popular.
A capa de Veja, aliada aos dois pedidos de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, protocolados pelo advogado Luís Carlos Crema ao findar esta semana, mostram o caminho que a direita pretende trilhar, caso a presidenta seja reeleita. Lembram a famosa frase de Carlos Lacerda sobre Vargas:
“O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”
“Revolução”, no nosso vocabulário político então corrente, significava simplesmente “movimento armado”, no caso, um golpe militar. Hoje, como não há mais golpes militares no nosso horizonte, o que a direita pode almejar é um golpe a la Paraguai ou Honduras, uma destituição “legal” que impeça o seu pesadelo de se realizar.
Quer dizer: a capa de Veja tem dois alvos simultâneos: a eleição deste domingo e um golpe posterior, o impeachment já sinalizado pelos pedidos de Crema, caso o candidato da direita não consiga vencer.
Portanto, não há nada de novo sob o sol nem sob a chuva. Vindo da Veja, é o que a gente podia esperar.
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