Eduardo Tavares de Farias*
No último 26 de outubro mais de 110 milhões de eleitores brasileiros decidiram quem governará a nação verde-amarela no período 2015-2018. A candidata escolhida foi a presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), com 51,64% contra 48,36% de Aécio Neves, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Os cidadãos tiveram de decidir entre dois modelos distintos de governo. Um que caminharia por uma via mais conservadora, de políticas neoliberais e, o outro, que seguiria pela rota mais progressista e de valorização dos programas de inclusão social. As perguntas são: Qual modelo apresenta melhores condições para a Costa Rica e por quê? Respondo: o modelo do vitorioso PT.
Para explicar as razões, tratarei sucintamente de temas como política e geoeconomia no âmbito da política externa brasileira.
Embora as relações diplomáticas entre os dois países tenham começado em 1907, só em 1953 as representações foram elevadas à categoria de Embaixada, na gestão de Ulate Blanco¹. Desde então, dois presidentes brasileiros estiveram em terras ticas². O socialdemocrata Fernando Henrique Cardoso, em 2000, e o membro fundador do PT Luiz Inácio Lula da Silva, em 2009. Lula também esteve extraoficialmente no país em 2011 para participar de seminário e reuniões com empresários costarriquenhos. De Costa Rica, foram cinco os presidentes que visitaram o Brasil. O primeiro foi José Figueres Ferrer³, em 1974, e o último, o atual mandatário Luis Guillermo Solís, em julho deste ano. Na ocasião, Solís destacou que seu governo priorizará as relações com Brasil.
Os mandatos de Lula (2003-2006) e de Rousseff (2011-atual) são caracterizados pela participação ativa nos centros de decisões internacionais, pela defesa de maior distribuição de poder e pelo empenho para fortalecer as condições de multipolaridade no sistema internacional. Ambos se dedicaram a estender e a incrementar as relações com os países em via de desenvolvimento, criando assim, uma estratégia de Cooperação Sul-Sul. Entretanto, sem deixar de ampliar e aperfeiçoar as já existentes com os países desenvolvidos. Neste contexto, África e América Latina emergiram como prioridades. Embora a maior atenção do governo petista esteja nas relações com América do Sul, por questões também geopolíticas relacionadas ao processo de integração regional, este fato não reduz a importância da América Central e do Caribe.
A política externa brasileira tem sido conduzida de maneira independente e pragmática. Comparativamente, é muito distinta da praticada por Cardoso nos dois mandatos 1995-1998 e 1999-2002. Estes períodos foram marcados pelo baixo perfil regional e pela prioridade à tradicional relação Sul-Norte, na qual se sustentava um alinhamento quase automático aos interesses dos Estados Unidos (EUA) e aos de países da Europa.
A vitória de Aécio Neves representaria, com base em seu plano de governo, o retorno de uma política externa semelhante a do governo de Fernando Henrique. Isto dificultaria ou impediria a continuidade dos esforços para fortalecer, na região, os acordos destinados a harmonizar objetivos, metas, regras nas áreas de serviços, investimentos estrangeiros, ciência, tecnologia, propriedade industrial, tarifas e outros.
No tabuleiro internacional, negociar com um Estado liderado por um governo comprometido com os interesses dos países vizinhos supõe ser mais produtivo. Os dois países, em geral, compartem temas de interesses como: paz, direitos humanos, segurança energética, preservação do meio ambiente, inclusão social, ciência, tecnologia etc. e, com isso, Costa Rica pode tirar vantagens das propostas de Dilma, pois existem brechas reais. Na visita de Lula, em 2011, ele destacou que os países não aproveitam nem 30% do potencial de integração. Além disso, o modelo petista permite criar condições para aproximar a Costa Rica dos países sul-americanos, ponto estratégico para um Estado que necessita diversificar seus mercados para tentar superar a dependência comercial dos EUA, bem como poder incrementar a pauta de exportação. Isto possibilitaria reduzir o peso que tem o setor de serviços (com 73% de participação no PIB nominal) e elevar a participação internacional do país. Entretanto, o desafio é tentar lograr o superávit primário. Com Brasil, estão sendo exitosos, ou seja, superavitários.
*Eduardo Tavares de Farias é jornalista, mestrando em filosofia na Universidade de Costa Rica (UCR) e traduziu e colaborou para Pragmatismo Político. Texto originalmente publicado no jornal da Costa Rica Semanario Universidad
1 – Otilio Ulate Blanco foi presidente da Costa Rica pelo Partido Unión Nacional (PUN) no período 1949-1953.
2 – “Tico” é um termo coloquial para se referir ao nativo de Costa Rica ou a algo pertinente ao país.
3 – José Figueres foi duas vezes eleito presidente do país pelo Partido Liberación Nacional (PLN). A primeira como 32º mandatário (1953-1958) e, a segunda, como 36º presidente (1970-1974).
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