O custo da eleição de 2014
Gastos das campanhas eleitorais de 2014 bateram todos os recordes. As presidenciais foram 2,6 vezes mais caras do que as de 2010. Nas eleições para deputados federais, o aumento foi de 34%. O que fazer para mudar o espectro mercadológico das eleições no Brasil?
Chico Alencar*
Nestas eleições nacionais de 2014 os gastos de campanha bateram todos os recordes. As presidenciais – com os R$ 628 milhões de arrecadação total estipulados por PT e PSDB – foram 2,6 vezes mais caras do que as de 2010, com um crescimento de 160%! Nas eleições para deputados federais, o aumento foi de 34%. E a média de gasto dos governadores eleitos foi de espantosos R$ 21 milhões!
Essa ‘inflação’, bancada por empreiteiras, bancos, mineradoras, frigoríficos, empresas do agronegócio, siderúrgicas, desceu também para as disputas de governadores e parlamentares. Dados do TSE informam um gasto médio, no discutível cálculo ‘per capita’, de cerca de R$ 3 milhões para cada um dos 1.698 eleitos no pleito! Esse sistema de privatização máxima da política tem potencial explosivo, ampliado agora pelo esquema montado na Petrobras, que beneficiou ‘gregos e troianos’ e deve custar o pescoço de muitas ‘cabeças coroadas’ de grandes partidos, em 2015.
No Judiciário, continua suspensa a aprovação final pelo STF da inconstitucionalidade do financiamento empresarial de campanhas, em função de um pedido de vistas de Gilmar Mendes. Na sua cruzada, o ministro pode estar vislumbrando ‘bolivarianismo’ na posição dos seis colegas que já se manifestaram contra as ‘doações’ das empresas… A campanha ‘Desengaveta, Gilmar!’ é premente.
As maiores ‘bancadas’ na Câmara dos Deputados da próxima legislatura se constituirão pela fidelidade aos seus grandes financiadores: assim, o ranking das ‘cinco mais’ classifica a JBS Friboi (162 deputados, R$61,2 milhões!), o Grupo Bradesco (113 deputados, R$ 20,3 milhões!), a Vale Mineradora (85 deputados, R$ 17,7 milhões!), o Banco Itaú (84 deputados, R$ 16,5 milhões!), a OAS Construtora (79 deputados, R$ 13 milhões!). Na sequência das ‘doações desinteressadas’ estão a Ambev, a Andrade Gutierrez, a Odebrecht, a UTC e a Queiroz Galvão. Não por acaso, várias delas também no esquema dos contratos propinados da Petrobras.
Também merece destaque a quantidade significativa dos ABN (abstenções, votos em branco e nulos), mesmo com a ‘estabilidade’ dos números entre 2010 e agora (ligeira ‘queda’ de 28 para 27%, com redução de 0,8% este ano). É muita gente não se sentindo representada pelos diferentes candidatos, por mais que o marketing milionário ‘venda produtos atraentes’. No Rio de Janeiro, os ABN (4.348.950 milhões) superaram os votos do governador eleito do PMDB, Pezão (4.343.298).
Essa porcentagem sinaliza a crise da representação e dos partidos. E não deixa de ser uma crítica à busca voraz pelo voto que indiferencia os contendores ávidos por controlar nacos do Estado e do orçamento, que lhes garante também prestígio, riqueza, poder, empregos, cargos, diretorias de estatais, porcentagem em contratos, tráfico de influência, na decrépita mas ainda vigorosa tradição patrimonialista. São urgentes mudanças radicais no nosso sistema político, para que esse círculo vicioso entre campanhas milionárias e desinteresse da população não se aprofunde.
*Chico Alencar é professor de Prática do Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor de 25 livros e deputado federal pelo PSOL-RJ. Congresso em Foco.