O mais assustador nas marchas que pedem intervenção militar e impeachment é a presença de candidatos a deputado de partidos como o PP e o PSDB liderando o movimento
Raul Pont*
As manifestações em São Paulo e Porto Alegre, em torno de bandeiras que vão da auditoria do TSE sobre as urnas eletrônicas e o resultado eleitoral até o pedido de intervenção (golpe?) militar, foram pouco expressivas. Quase irrelevantes. A auditoria encaminhada ao Procurador Geral da República não prosperou por absoluta falta de objeto. Foi rejeitada por falta de provas ou indícios sérios que justificassem a abertura de um processo de investigação sobre o pleito. Há menos evidências ainda para atender outra reivindicação de parte dos manifestantes: o pedido de impedimento da presidenta eleita.
Alguns mais afoitos já pregam a “intervenção militar” sintonizados com generais da reserva que clamam nos clubes militares que “os civis” voltem a bater na porta dos quartéis porque estes estão prontos para, mais uma vez, salvarem o Brasil.
O mais preocupante, no entanto, não são estes aspectos saudosistas de 1964. O assustador é a presença de candidatos a deputado, nesta eleição, de partidos como o PP e o PSDB liderando o movimento.
Partidos políticos que participaram do pleito eleitoral com vitórias e derrotas de suas candidaturas têm a obrigação de defender o processo democrático quando conduzido com a eficiência e a lisura das eleições este ano.
São partidos que devem explicações à sociedade do respeito ou não ao jogo democrático, sob pena de serem coniventes ou estimuladores desses comportamentos.
Candidatos eleitos ou suplentes são dirigentes partidários e seus atos e comportamentos expressam posições partidárias, coletivas e devem ser controlados e responsabilizados pelos partidos.
A história brasileira já registrou acontecimentos semelhantes. Vivemos na eleição uma verdadeira tentativa de golpe midiático perpetrada pelo Grupo Abril e pela revista Veja.
Quando o próprio veículo quebra todas as regras mais elementares do jornalismo para alterar e fraudar um processo eleitoral, que segurança temos de que atos embrionários de ações semelhantes não terão também o respaldo, a guarida e a multiplicação nos meios de comunicação?
Esses partidos têm a obrigação de vir a público repudiar esses atos e manifestações e se afirmarem, efetivamente, comprometido com a democracia.
*Raul Pont é professor e deputado estadual no Rio Grande do Sul. Colaborou para Pragmatismo Político
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