Operação Lava Jato: a Odebrecht foi blindada?
A Operação Lava Jato, da Polícia Federal, tem uma intrigante contradição. De todas as propinas que já foram reveladas, a maior foi paga pela Odebrecht: nada menos que US$ 23 milhões, depositados na conta de Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras.
Costa não apenas disse ter sido pago pela empreiteira de Marcelo Odebrecht, em sua delação premiada, como apontou a origem dos recursos e aceitou devolvê-los. Ou seja: confessou o crime e mostrou as provas do delito (reportagem de Mario Cesar Carvalho).
No entanto, a Odebrecht é uma das poucas empresas que conseguiu ser, até agora, relativamente blindada na Operação Lava Jato. Embora a prisão de dois de seus executivos tenha sido requerida pelo Ministério Público Federal, os pedidos foram negados pelo juiz Sergio Moro.
No campo oposto, o empresário que vem sendo exposto até agora como “chefe do cartel”, ou do “clube do bilhão”, é um dos poucos, segundo o próprio juiz Sergio Moro, que não fez depósitos às contas do doleiro Alberto Youssef.
Trata-se de Ricardo Pessoa, sócio da UTC Engenharia. Na sua decisão, eis o que diz o juiz, no capítulo referente à UTC: “Não foram, porém, identificados até o momento depósitos efetuados diretamente pela UTC em contas controladas por Alberto Youssef”.
O curioso é que aconteceu exatamente o contrário. Empresas de Youssef, como a GFD Participações, aportaram recursos em empreendimentos ligados à UTC. De acordo com a denúncia, Youssef se tornou sócio da empreiteira em alguns empreendimentos imobiliários, como um hotel e um prédio comercial.
É possível que a Odebrecht venha a ser alvo de uma nova etapa da Operação Lava Jato. Mas a impressão que fica, até agora, é que a empresa, por algum motivo, conseguiu ser blindada, pois não é natural que a empreiteira que tenha pago a maior propina diretamente a um ex-diretor da Petrobras, de nada menos que US$ 23 milhões, passe incólume pelo furacão, quando praticamente todas as suas grandes, médias e pequenas irmãs foram atingidas.